Título: Lula busca mais três minutos na TV
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2006, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalha com a possibilidade de ganhar mais três minutos no seu programa eleitoral no rádio e na TV, pois é quase certo que fará coligação oficial com o PSB e o PC do B.

Nos últimos dias - especialmente no sábado, depois da convenção do PT em Brasília -, Lula fez seguidos apelos aos presidentes dos dois partidos para que apóiem a sua reeleição. E ouviu deles a garantia de que vão se empenhar ao máximo para conseguir a aliança.

Os argumentos do presidente não se limitaram somente ao tempo do programa eleitoral, que passaria dos seis minutos à tarde e seis à noite para nove em cada inserção. Lula disse aos presidentes do PSB, deputado Eduardo Campos (PE), e do PC do B, Renato Rabelo, que a aliança formal teria um sentido simbólico, que agregaria à sua chapa dois partidos da esquerda. E mais: prometeu que eles vão ter forte influência em seu programa de governo, ora em gestação, e que terão a vantagem de colarem as suas campanhas na presidencial.

"Espero resolver essa pendência até terça-feira (amanhã). Estou trabalhando para fazer a coligação", afirmou ontem Eduardo Campos. Também atuam para levar o PSB para os braços do PT os ex-ministros Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia) e Ciro Gomes (Integração Nacional).

Pediram tempo até amanhã, porque ainda existem pequenas questões a resolver. "O problema é que, quanto mais afunilam, mais os problemas ficam difíceis. Mas acho que vai dar", declarou Eduardo Campos.

BRONCA

No PC do B há o mesmo empenho pela aliança com Lula. O presidente do partido disse que a sua proximidade com o presidente não é momentânea. "Nosso apoio a Lula é estrutural", explicou Rabelo.

Para mostrar aos comunistas que eles têm espaço na sua campanha à reeleição, Lula aproveitou a convenção nacional do PT, realizada no sábado, para dar uma bronca nos petistas de Brasília que teimavam em hostilizar o PC do B.

Na capital federal, os dois partidos possuem candidatos, o que dificulta coligação formal. O PC do B tem o ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz e o PT, a deputada distrital Arlete Sampaio.

"Quero contar uma história para vocês. Em 1989, eu já estava desanimado, estava caindo tanto nas pesquisas que uma hora falei: 'Vou deixar de ser candidato porque senão vou terminar devendo dinheiro e devendo número para o Ibope. Depois, vou ter que concorrer para zerar. Então, vou desistir'. Eu estava com o saudoso João Amazonas (então presidente do PC do B), que já não está mais entre nós, e ele dizia: 'Companheiro Lula, nós temos que demarcar o campo, temos que definir quem queremos atingir. Acho que temos de fazer um discurso para a classe trabalhadora'. Foi daí que fomos para o segundo turno em 1989", disse Lula aos petistas.

Depois, falando ainda para a torcida organizada de Arlete Sampaio, o presidente lembrou que já teve muita divergência com o PC do B por causa da luta sindical. "Mas, de lá para cá, a relação minha pessoal com os dirigentes do PC do B, do PC do B com o PT e do PT com o PC do B, em quase todos os Estados da Federação, tem sido uma relação extraordinária, democrática, civilizada, respeitosa. E ela precisa se manter mesmo onde a gente tenha disputa", afirmou Lula, que, em seguida, fez comparação entre política e casamento: "Digo sempre o seguinte: marido e mulher não podem brigar todo dia por causa do erro, senão o casamento não dá certo. É preciso ter paciência, contar até dez, tomar um banho gelado."