Título: Vendas do comércio sobem 10,5%
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

O crescimento das vendas das empresas do comércio surpreende e ultrapassa o das indústrias no primeiro trimestre, na comparação com os mesmos meses de 2005, puxado pelos eletroeletrônicos e combustíveis. Dos 10 mil balanços de companhias abertas e fechadas avaliados pela Serasa a pedido do Estado, a receita das empresas do comércio aumentou 10,5% no primeiro trimestre deste ano, já descontada a inflação. É a maior maior taxa registrada para o setor desde 2004.

Já o faturamento da indústria cresceu 5,8% no período e o das empresas prestadoras de serviços, 2,6%. No total dos três setores, as companhias que compõem a amostra faturaram R$ 127 bilhões no primeiro trimestre, com acréscimo real nas vendas de 6% ante o mesmo período de 2005. Essa taxa é menor do que no ano anterior, que havia sido de 6,5%. O aumento do faturamento é uma boa medida do ritmo de atividade e discrepância entre os setores revela os gargalos existentes na economia.

"O ritmo de crescimento do faturamento das empresas foi menor por causa da indústria, que está sofrendo com o câmbio", afirma Marcio Torres, coordenador o estudo e gerente de Crédito da Serasa, empresa especializada em análise de crédito. O faturamento das indústrias havia avançado 9,7% no primeiro trimestre do ano passado, ante o mesmo período de 2004, seguido pelo comércio (7,8%) e os serviços (0,2%).

Torres explica que o dólar fraco afetou o desempenho das indústrias neste ano tanto pelo lado das exportações como pelo aumento das importações. Ele cita como exemplo as indústrias têxteis, que tiveram receita real 2,1% menor no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2005. A maior queda no setor industrial foi registrada nas siderúrgicas, que viram seu faturamento real encolher 35,9% no período.

"Já vimos esse filme no passado", diz o técnico da Serasa. Ele se refere ao período de julho de 1994 a janeiro de 1999, quando o real estava valorizado e valia US$ 1, seguindo a paridade do câmbio fixo.

CRÉDITO

Enquanto a indústria perdeu fôlego no primeiro trimestre, as empresas do comércio ganharam musculatura. Elas foram revigoradas pelo crédito farto que impulsionou as vendas bens duráveis, como veículos e eletroeletrônico. "A grande estrela é o crédito", afirma Torres. Segundo o estudo, o faturamento real das revendas de veículos aumentou 24,7% no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2005. Nas lojas de eletroeletrônicos, o acréscimo foi de 18,4%.

Além do crédito, o coordenador do estudo pondera que o comércio é o primeiro que capta a melhoria da renda da população. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em maio, a renda do trabalhador cresceu 7,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi a maior expansão desde 2003.

As empresas do comércio confirmam a melhoria nas vendas de eletroeletrônicos. As Lojas Insinuante, por exemplo, com 226 pontos-de-venda espalhados nas regiões Norte e Nordeste, além do Rio de Janeiro e Espírito Santo, registraram no primeiro trimestre deste ano aumento de vendas de 6% em relação ao mesmo período de 2006, levando-se em conta o mesmo número de lojas.

Segundo o diretor Comercial da rede, Rodolfo França Jr., o acréscimo se deve mais ao aumento no volume das vendas, puxado pela Copa do Mundo, do que à alta dos preços: "Os preços dos televisores estão em queda". A grande incógnita é como se comportarão as vendas depois da Copa. Isso porque, apesar de a massa salarial ter crescido, o nível de endividamento é alto.

Na contramão dos bens duráveis, o faturamento das empresas que vendem alimentos foi o que registrou o pior desempenho entre os segmentos do comércio no primeiro trimestre de 2006: cresceu apenas 0,2% na comparação anual.