Título: Solo antigo pode provocar catástrofe moderna
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Vida&, p. A21

Ossos de mamutes e pastagens cobertas por 1 milhão de km2 da camada de terra permanentemente congelada da Sibéria estão começando a derreter e têm potencial para liberar bilhões de toneladas de carbono, acelerando o aquecimento global.

"É como retirar alimentos do freezer. Deixe-os sobre um balcão alguns dias e eles apodrecerão", explica Ted Schuur, professor de Botânica da Universidade da Flórida e membro da equipe de cientistas russos e americanos que identificou a ameaça. A matéria em decomposição de animais e plantas no solo é convertida pelas bactérias em dióxido de carbono, gás metano e outros gases tóxicos de efeito estufa.

O estudo, publicado na edição de ontem da revista Science, concluiu que embora os pesquisadores do aquecimento global incluam nos seus cálculos as reservas de carbono do oceano, solos e vegetação atuais da Terra, estão ignorando vastas quantidades de carbono contidas em camadas congeladas nas planícies do norte da Sibéria e na região central do Alasca.

Se toda essa camada derreter e for liberada na forma de dióxido de carbono, isso poderá quase dobrar as 730 bilhões de toneladas métricas de carbono já existentes na atmosfera. Para os pesquisadores, o mais surpreendente foi o tamanho e a profundidade do terreno que descobriram - um trecho com dois terços do tamanho do Alasca e uma profundidade média de 24 metros contendo cerca de 500 bilhões de toneladas métricas de carbono.

"É como encontrar um novo continente debaixo da terra", diz o chefe do estudo, Sergey Zimov. A vasta área foi sepultada no decorrer de muitos milênios por uma camada incomum de poeira que cobriu os ossos dos mamutes, bisões, tigres-de-dente-de-sabre e a grama da qual se alimentavam - e depois congelou há cerca de 10 mil anos.