Título: Bachelet fecha 100 dias em alta
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Internacional, p. A18

Presidente chilena conclui com sucesso a maioria das 36 promessas feitas durante campanha eleitoral

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, completa amanhã 100 dias no poder, cumprindo a maioria das 36 medidas anunciadas durante a campanha, apesar de ter enfrentado uma greve de estudantes secundaristas - o maior protesto estudantil em mais de três décadas no país. "A tarefa está cumprida", disse ontem Bachelet. As promessas, descritas por ela como "o início de um grande processo de reforma", são majoritariamente voltadas para os setores mais pobres da sociedade.

Entre as medidas já executadas estão o reajuste das aposentadorias, mais bolsas de estudo para crianças em jardins de infância e para jovens nas universidades e um plano de emprego. Outras medidas ainda não foram cumpridas, pois tramitam no Congresso. Entre elas, está um projeto que estabelece cotas para jovens de baixa renda em universidades e outro para a melhoria da educação pré-escolar de crianças pobres.

Bachelet voltou a defender ontem um tema que lhe é caro: a participação das mulheres. Bachelet, primeira mulher a chegar à presidência do Chile, disse que a questão "não é um tema feminista, mas de justiça".

Entre as 36 medidas, há 2 voltadas para as mulheres: uma para evitar a discriminação no setor público e outra para garantir berçários onde houver mães trabalhando. Uma promessa relativa a esse tema foi cumprida no início do governo: metade do gabinete da presidente socialista é feminino.

Também estão contemplados pelas medidas os setores de segurança e saúde. Além disso, meio ambiente e melhores condições para empreendedores foram alvo de projetos.

O atual governo é o quarto eleito pela Concertação - coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Bachelet contou com a ajuda da popularidade do presidente anterior, Ricardo Lagos (2000-2006), para se eleger e colhe os benefícios da alta cotação internacional do cobre - principal produto de exportação do país.

A presidente enfrentou uma greve de quase um mês de estudantes do ensino médio. Os protestos chegaram a reunir um milhão nas ruas, no dia 5. Apesar de ter afastado um chefe dos carabineiros (polícia militar) pela violenta repressão aos manifestantes, Bachelet saiu da crise criticada pela falta de liderança na condução do problema. Por isso, perdeu 7 pontos na pesquisa da empresa Adimark que mediu sua popularidade. Apesar da queda, ainda exibe um invejável 54,5% de aprovação. Como conseqüência da revolta estudantil, o Estado desembolsará US$ 200 milhões a mais neste ano e no próximo.

Bachelet deverá usar o seu prestígio para aprovar uma das medidas prometidas que ainda estão no Congresso. Trata-se de uma mudança no sistema eleitoral chileno. O atual, denominado 'binominal', prejudica os partidos minoritários e os independentes. Os três antecessores de Bachelet tentaram mudá-lo, sem sucesso. Para ela, é necessária uma reforma para assegurar "competitividade, representatividade e governabilidade" dos partidos.