Título: UE aprova ajuda a palestinos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Internacional, p. A14

Europeus enviarão US$ 125 milhões para serviços básicos, sem que o dinheiro passe pelo governo do Hamas

Líderes da União Européia (UE) reunidos em Bruxelas aprovaram ontem um plano de ajuda a famílias palestinas pobres e a serviços essenciais na Cisjordânia e Faixa de Gaza, totalizando inicialmente cerca de US$ 125 milhões.

Será criado um fundo gerenciado pelo Banco Mundial e a UE, em conjunto com o escritório do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. Dessa maneira, a UE evitará que o dinheiro passe pelo governo palestino, controlado pelo grupo radical islâmico Hamas, qualificado de organização terrorista pelo bloco europeu. Os recursos devem começar a ser enviados a partir de julho.

Depois da vitória do Hamas nas eleições parlamentares de janeiro, UE, EUA e outros países e entidades doadoras de ajuda aos palestinos congelaram centenas de milhões de dólares que seriam repassados à Autoridade Palestina. O governo de Israel, por sua vez, deixou de transferir US$ 55 milhões mensais, referentes a impostos cobrados sobre produtos importados pelos palestinos através de portos israelenses.

Isto porque o Hamas se recusa a aceitar a existência de Israel, renunciar à luta armada e reconhecer os acordos de paz firmados entre o governo israelense e os líderes palestinos em 1993. Sem os recursos, o governo do Hamas não tem como pagar os salários de 165 mil funcionários públicos nem manter serviços básicos para a população.

A decisão da UE provocou protesto imediato do ministro da Informação do governo palestino, Youssef Riszka - um membro do Hamas -, que acusou os europeus de terem cedido à pressão americana e adotado uma política hostil com o objetivo de dividir os palestinos.

Riszka se referia ao fato de a UE ter optado por operar o fundo em conjunto com o escritório de Abbas, que é o líder do Partido Fatah, rival do Hamas. Além disso, o dinheiro não irá para a folha de pagamento do governo. Apenas salários dos funcionários do setor de saúde serão incluídos no pacote de ajuda, que prevê subsídio a famílias e custeio de combustível e calefação, entre outros itens.

Mas um outro representante do Hamas, o presidente do Parlamento, Salah al-Bardawil, fez comentários positivos sobre o plano. "Nós consideramos que este é um passo na direção correta, mesmo sabendo que esse dinheiro não vai chegar ao governo. Seria melhor que a União Européia tratasse com o governo eleito direta e democraticamente pelos palestinos porque isso indicaria respeito pela democracia", afirmou Bardawil, segundo a BBC.

A comissária explicou que o plano foi elaborado em consultas com os EUA, Rússia e ONU, os membros do chamado Quarteto para o Oriente Médio - grupo mediador do conflito. Em maio, uma reunião do Quarteto havia definido a criação de um mecanismo de ajuda aos palestinos, contornando o governo do Hamas. Num comunicado emitido ontem, a UE faz um apelo a outros doadores, incluindo nações árabes, para fazerem "contribuições substanciais" ao novo fundo. Também pediu a Israel que encaminhe o dinheiro dos impostos a esse fundo.

HAMAS DIVIDIDO Líderes do Hamas estão dando declarações divergentes sobre uma trégua nos ataques a Israel. De acordo com o porta-voz do Hamas, o representante do governo palestino não falou em nome do grupo quando propôs na quinta-feira um cessar-fogo, durante entrevista à Rádio Israel. As contradições emergiram no dia 9. A ala militar do Hamas anunciou nesse dia o fim da trégua mantida pelo grupo havia 16 meses, depois de disparos israelense contra uma praia de Gaza, que causaram a morte de oito civis (Israel neg ou ter bombardeado a área).

Mas o porta-voz do governo disse que o Hamas está disposto a pedir aos grupos palestinos que parem de lançar foguetes em Israel, desde que o governo israelense interrompa primeiro suas operações na Faixa de Gaza e Cisjordânia. O governo de Isra el indicou que recebeu bem a proposta. Ontem, porém, militantes de outros grupos lançaram foguetes no sul israelense, causando danos materiais. Israel retaliou com um míssil que matou dois chefes locais da Jihad Islâmica e deixou três civis feridos.

Segundo o Exército de Israel, esta semana os radicais lançaram 120 foguetes. Um oficial israelense disse, sob anonimato, que os líderes do governo do Hamas querem a trégua, mas a ala militar é controlada pelo líder máximo, Khaled Meshal, que vive na Síria e é mais radical.