Título: Lula diz que TV digital do Japão é chique. Mas desmente decisão
Autor: Gerusa Marques, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Economia & Negócios, p. B7

Representantes japoneses chegam amanhã em Brasília para discutir padrão

Uma delegação de 15 representantes do governo e da indústria de televisores do Japão chegará amanhã a Brasília para discutir a adoção da TV digital no Brasil. Na segunda-feira, no Itamaraty, serão acertados os termos do acordo a ser assinado no dia 29, que deverá oficializar a escolha pelo padrão japonês.

Embora o governo não admita a escolha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem indicação de que a decisão está tomada. "Tinha três modelos disputando o Brasil', disse Lula, usando o verbo no passado, ao discursar na abertura do 13º Congresso da União Socialista, em Brasília. Depois, Lula corrigiu: "Tem três modelos disputando o Brasil. Agora, está vindo uma equipe técnica do Japão que se ofereceu para criar um projeto nipo-brasileiro de TV digital. Olha que chique."

O presidente destacou a importância dessas negociações para o avanço tecnológico do País. "Nós queremos que não seja apenas um modelo de TV digital; queremos também uma fábrica de semicondutores para colocar o Brasil na era da microeletrônica", disse ele.

A delegação japonesa é formada por secretários dos Ministérios do Interior e da Comunicação, da Economia, dos Negócios e da Indústria e das Relações Exteriores, além de representantes da indústria de televisores, como a Toshiba.

Eles precedem a vinda do ministro do Interior e da Comunicação, Heizo Takenaka, que deverá participar, no dia 29, da cerimônia de assinatura, pelo presidente Lula, de um decreto com as regras de transição do sistema analógico para o digital e do anúncio do padrão a ser adotado no País.

Apesar da vinda dos técnicos, os donos do padrão japonês já anteciparam que precisam de mais tempo para detalhar alguns pontos da implantação da TV digital no Brasil, como a definição das tecnologias nacionais que poderão ser incorporadas.

"A incorporação de inovações precisa de avaliações técnicas aprofundadas e isso demanda tempo", disse o representante da TV digital japonesa, Yasutoshi Miyoshi, prevendo de seis meses a um ano de estudos. Ele explicou que é importante avaliar se a tecnologia desenvolvida no Brasil, como o sistema de compressão de sinais de vídeo (MPEG4), é compatível com o padrão japonês.

Esses estudos fariam parte de uma segunda etapa de negociações, que se seguirá à escolha do padrão. Para isso, foi criado um grupo formado por 50 técnicos japoneses. A criação desse grupo é um dos compromissos assumidos pelo governo de Tóquio no memorando de entendimento firmado com uma delegação de ministros brasileiros que foi ao Japão em abril, iniciando o processo de escolha pelo modelo japonês.

O governo vinha se empenhando para que a incorporação dessas inovações fosse decidida já, no acordo que será assinado no dia 29. As emissoras de TV e a indústria de televisores dependem dessas definições.