Título: Para consumidor, relação é de amor e ódio
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2006, Economia & Negócios, p. B7

Os consumidores têm uma relação de amor e ódio com os cartões de crédito. Alguns não vivem sem, outros não querem ver um nem de longe. May Ling Akioka, de 37 anos, por exemplo, tem mais de dez cartões. Já Gustavo Encinas, de 25, os detesta. São retratos dos dois extremos. Ela já não tem mais lugar na carteira para guardar tanto cartão. Entre os dez que usa, estão os cartões de lojas como C&A, Renner e Riachuelo. "Adoro cartão de crédito", diz. "Além das facilidade dos prazos de pagamento, é mais seguro que cheque pré-datado."

May, que teve seu primeiro cartão aos 18 anos, no início se empolgou e teve alguns problemas para quitar as contas. Mas nada que a fizesse desistir do dinheiro de plástico. Nem a clonagem de um cartão diminuiu o gosto da secretária. "O problema foi solucionado muito rapidamente e não tive nenhum prejuízo", lembra. "Isso me deu ainda mais segurança."

Hoje ela paga quase tudo com o cartão, desde compras de supermercados, abastecimento de carro até remédios. A preferência são os cartões com bandeira, cujo pagamento pode ser feito pelo banco. "Não gosto de ter de ir até uma loja para pagar uma fatura." A secretária alerta, no entanto, que é preciso ter controle sobre as contas. "Não passo vontade, mas sei me controlar."

Para Gustavo Encinas, ao contrário, é quase uma ofensa falar em cartão de crédito. Economista, ele afirma que o produto é uma armadilha. "A princípio existe uma ilusão sobre as facilidades, mas em muitos casos as pessoas não conseguem pagar o que compram e acabam se afogando em juros."

Encinas procura pagar suas compras em dinheiro ou com o cartão de débito. Quando precisa de um prazo maior, não abre mão de um cheque pré-datado. A falta de um cartão de crédito não é um grande empecilho. "Sei que pagar em várias vezes significa pagar mais caro, por isso prefiro abdicar de algum gasto no presente para consumir no futuro pagando mais barato." Apesar de odiar cartão de crédito, ele recebe pelo menos duas correspondências por semana perguntando se quer algum. Além de propostas, Encinas já recebeu o cartão e vários telefonemas.