Título: Cartões devem crescer 18% até o final do ano
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2006, Economia & Negócios, p. B7

Marcado por grandes números e cifras superiores a nove dígitos, o setor de cartão de crédito foi eleito pelos bancos como o principal foco de negócios em 2006. Coincidentemente, há exatos 50 anos o Brasil conhecia seu primeiro cartão de crédito, o Diners Club, do empresário Hanus Tauber, mas que era aceito em raros estabelecimentos. De lá pra cá, muita coisa mudou. Com a economia estável, o dinheiro de plástico passou a ser aceito em mais de 1 milhão de estabelecimentos, mas ainda não está nos bolsos de todos os brasileiros.

Até abril, o País contava com 71 milhões de cartões de crédito com bandeiras - 144% mais que em 2000. O volume de transações subiu de R$ 48,4 bilhões para R$ 129,1 bilhões - crescimento de 166,7%. Mas, apesar de altos, os números mostram que o potencial de crescimento é bastante elevado. Segundo Fernando Chacon, diretor-executivo de Marketing e Vendas da Credicard Itaú, líder com 19,4% do mercado, apenas 40 milhões de pessoas no País têm cartão de crédito. "Alguns não podem ter e outros ainda não descobriram as facilidades do produto."

Até o final do ano, a expectativa é colocar mais 9 milhões de cartões no mercado, alcançando 80 milhões de unidades, crescimento de 18% sobre 2005. Mas, para elevar a base e suas receitas, os bancos terão de seduzir o consumidor com propostas criativas, já que todos decidiram voltar suas atenções para o produto este ano.

Cada um aposta num tipo de estratégia, mas uma é comum a todas instituições: a parceria com redes varejistas para colocar bandeiras nos cartões de loja. No mercado, dizem que é a migração dos cartões private label (bandeira própria) para o co-branded (bandeira compartilhada), uma alternativa para atingir também classes mais baixas. Ou seja, quem tem cartões de loja poderá usá-los em outros estabelecimentos.

A lógica é simples: hoje o mercado brasileiro conta com 103 milhões de cartões de loja, com um volume de transação que beira R$ 22 bilhões (bem abaixo dos R$ 129 bilhões dos cartões com bandeiras). Fazer parcerias com os varejistas e pôr bandeiras nos cartões seria cortar um bom caminho na conquista do consumidor. Até porque muitos dos clientes de lojas não são bancarizados. Foi o que fez a C&A ao criar o Ibicard. Ela aproveitou sua base de clientes e lançou sua própria bandeira, afirma o diretor-executivo do Bradesco, Paulo Isola. "É um mercado com grande potencial de crescimento."

Em novembro de 2005, o Bradesco também entrou nesse nicho. A instituição fechou acordo com a Casas Bahia e lançou um cartão com bandeira Visa, que não tem anuidade no primeiro ano. Nesta parceria, a expectativa é atingir 3 milhões de plásticos até o fim do ano e elevar a carteira de private label do banco para 6,8 milhões. Na base de cartão de crédito - sem considerar cartões de loja e 1,2 milhão de unidades da América Express (Amex) -, o banco espera alcançar 10 milhões de plásticos no final do ano.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços, Jair Delgado, explica que o interesse dos bancos pelo cartão de crédito deve-se especialmente à estabilidade econômica do País: "O produto se transformou num instrumento que pode ser usado em qualquer estabelecimento". O executivo diz que, na média, o Brasil tem 1,3 cartão por pessoa. Nos Estados Unidos, chega a quatro.

Por isso, os bancos acreditam numa forte expansão. O gerente executivo da área de cartões do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, diz que, dos 22 milhões de clientes da instituição, apenas 10 milhões têm cartão de crédito. O banco também aposta nas parcerias com varejistas. A primeira, em fase de montagem, será com a Lojas Maia, no Nordeste.

O diretor-executivo de Marketing da Credicard Citi, Marcos Almeida, espera adicionar este ano 1 milhão aos seus atuais 4,4 milhões de cartões. Embora não tenha nenhuma parceria com varejistas, a instituição conversa com possíveis parceiros.