Título: Lula diz que arrumou economia depois de receber País quebrado
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que antes dele o "Brasil era uma coisa meio desarranjada" e disse que chegou a se questionar se deveria disputar a Presidência diante de algumas avaliações de que o País iria quebrar.

"Economistas sérios como Paul Singer e Maria da Conceição Tavares achavam que a gente ia ter muita dificuldade, alguns achavam até que o Brasil estava quebrado", contou. "Às vezes, eu dizia para eles: 'Vocês dizem que são meus amigos e acham que o Brasil está quebrado, mas querem que eu seja presidente da República? Eu vou ser presidente para quê?'''

No discurso, na 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária, em Brasília, Lula sugeriu que, num eventual segundo mandato, manterá longe da linha de frente da política econômica nomes tradicionais do partido, como o candidato a governador de São Paulo, senador Aloizio Mercadante, o senador Eduardo Suplicy, a ex-deputada Maria da Conceição Tavares e os professores Paul Singer e Paulo Nogueira Batista.

"Resolvemos o problema da economia, pagamos antecipadamente dívidas com o FMI e o Clube de Paris", ressaltou o presidente. "Hoje, o Brasil não depende mais do Fundo (Monetário Internacional), do sorriso do presidente americano e do sorriso de ninguém. O Brasil só depende de nós", completou.

Lula contou uma história familiar para ilustrar a descrença e o desconhecimento dos economistas da "casa", os chamados desenvolvimentistas, em relação ao desempenho do governo na economia. "Eu lembro, Eduardo, que uma vez ganhei um avião de presente para meu filho e a cartilha de montar (o brinquedo) era escrita em inglês", contou. "Falei: 'Que diabo vou fazer com isso aqui, não sei ler em inglês e não sou especialista em avião?'", comentou, acrescentando que pensou em jogar fora o brinquedo. "Mas pensei que era possível encontrar alguém que soubesse montar, e arrumei uma pessoa que montou para mim." Depois de vencer a eleição de 2002, Lula colocou no comando da economia Antonio Palocci, que é médico, e em cargos-chave técnicos não petistas, como Henrique Meirelles, de passado tucano.

O presidente lembrou que recorria ao grupo de economistas petistas quando perdia eleição. "O Paul Singer fazia parte de um grupo de economistas que durante muitos e muitos anos debateram comigo. Cada vez que eu perdia uma eleição eu montava um grupo de economistas: Aloizio Mercadante, Paul Singer, Eduardo Suplicy, Paulo Nogueira Batista, Maria da Conceição Tavares e tantos outros que não vou ficar citando", relatou. "A gente discutia, discutia, discutia. Sobre FMI, dívida externa, sobre não sei das quantas. Hoje, estamos provando que temos de fazer a lição de casa. Temos compromissos e temos de cumprir nossos compromissos."

Depois de falar do grupo de economistas da época de derrotas, Lula observou que cumpriu todos os acordos firmados pelo governo Fernando Henrique Cardoso no exterior, sem mencionar, no entanto, o que os desenvolvimentistas pensavam sobre esses compromissos.

"Quando a gente casa com a viúva, a gente tem de herdar os filhos também. A gente não pode só querer ficar com a mulher e não ficar com os filhos", disse Lula, que casou com a então viúva Marisa Letícia. "A gente tem de casar com o conjunto das alegrias e dos problemas." Citou como exemplo o fato de no ano passado o governo ter devolvido ao FMI US$ 15,6 bilhões, ter quitado compromissos com o Clube de Paris e pago a dívida das moratórias do governo José Sarney. "A poupança interna passou de 17% para 32%", disse.