Título: Alckmin atribui a rival instabilidade no País em 2002
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Nacional, p. A5

O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, saiu ontem em defesa do legado do governo Fernando Henrique e atribuiu a piora dos resultados da economia no fim de 2002 - quando houve aumento do risco país e da cotação do dólar - ao "efeito PT" e ao "risco Lula".

"Você passa 25 anos dizendo uma coisa e isso causa uma enorme instabilidade. Foi simplesmente a possibilidade de vitória do Lula em 2002 que acabou piorando os índices no final de 2002", afirmou Alckmin, em resposta às declarações do presidente de que teria herdado a economia "desarranjada".

"Ele (disse que) pegou a economia desarrumada. Pelo contrário", rebateu. "Foi o governo do presidente FHC que, pelo (Plano) Real, conseguiu fato que deve ser comemorado, que até hoje traz benefícios para a população, que é a estabilidade monetária, a estabilidade de preços."

Para ele, foi esse o "grande ganho" do País no governo tucano, além "da rede de proteção social, da modernização do Estado e agências reguladoras". No governo Lula, listou, o País perdeu oportunidades, não avançou nas reformas, houve aumento de impostos e dos gastos correntes e piora nos investimentos e na questão fiscal.

Referindo-se a afirmações de Lula de que o câmbio "não pode ser alterado por decreto", foi mais duro. Acusou-o de "trabalhar contra" os investimentos privados. "O governo aceita rasgar contrato, como no caso da Bolívia (que nacionalizou refinarias da Petrobrás), tem posição submissa, é leniente no cumprimento da lei." Ele atacou, ainda, o "aparelhamento" do Estado e prometeu fazer o contrário.

DESGASTE

Em meio à polêmica sobre como FHC participará da campanha, Alckmin defendeu-o, mas não assumiu com grande entusiasmo a apologia do seu governo. Integrantes de sua equipe avaliam que pautar seu discurso em cima do governo FHC interessa só ao PT e poderia "importar" o desgaste que levou à derrota de José Serra na corrida presidencial de 2002.

Indagado sobre o esforço petista de fazer a comparação entre os dois governos, Alckmin garantiu: "Não vou ser pautado pelo PT, vou fazer a minha campanha, propositiva. Vamos falar do que nós já fizemos em São Paulo, do que eles não fizeram na área federal e o que vamos fazer na área federal."

"É evidente, isso não precisaria nem ser dito, que o governo do presidente FHC será defendido, porque há muitas injustiças." Ao falar em injustiças, ressaltou, se referia a Lula colher os frutos, mas não reconhecer os méritos do antecessor. "FHC participará no que quiser (na campanha). Eles ficam com o farol voltado para o passado. Vou discutir os próximos 4 anos, quem pode fazer mais pelo Brasil. Nós podemos muito mais. Time novo, energia nova."

À noite, Alckmin disse que considera equivocada a estratégia de Lula de bater no governo FHC. "Estou achando isso ótimo, uma maravilha. Lula está me chamando para dançar, está me ajudando, ao polarizar o debate antes do tempo. O problema do Lula não sou eu. É o Fernando Henrique", explicou, durante a festa de São João que seu candidato a vice, senador José Jorge (PFL-PE), tradicionalmente promove em Brasília.

Alckmin chegou à festa às 22 horas e circulou muito à vontade entre os cerca de 200 convidados. Ensaiou um forró no palco, onde se apresentava um grupo de Caruaru (PE), comeu "cachorro-quente de boi relado" (carne moída) e tapioca e tomou refrigerante.

Tucano não fala de favoritismo Após a classificação do Brasil às quartas-de-final, ontem, Geraldo Alckmin recusou a comparação entre o favoritismo da seleção na Copa e o de Lula na eleição presidencial. "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", desconversou, depois de assistir ao jogo na sede do diretório estadual do PSDB, na capital.

Alckmin apostou num placar mais conservador do que o final: 3x1 para o Brasil. "O Dida nos salvou! Foi um belo jogo. Temos tudo para avançar."

Alckmin estava acompanhado da mulher, Lu, e de dirigentes, que lotaram um salão do diretório. O telão montado para transmitir o jogo, porém, deu defeito várias vezes. Inclusive no segundo gol do Brasil. Houve gritaria geral. Só deu para ver o replay.

"Parecia o cinema lá de Pinda. O filme parava na melhor parte e a gente só assistia ao resto na semana seguinte", brincou o tucano. Ele fez questão de elogiar o camisa 9, Ronaldo, que recentemente se envolveu em polêmica sobre seu peso com Lula. "Vejam a diferença que ele faz."