Título: Denúncia ajuda a separar joio do trigo, diz Renan
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Nacional, p. A10

Depois de resistir à criação da CPI dos Sanguessugas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem que a decisão da Procuradoria Geral da República de pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) o indiciamento de 45 parlamentares acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias será bom para o Congresso. "Vai permitir separar o joio do trigo", disse Renan. A CPI dos Sanguessugas faz hoje sua primeira reunião, mas integrantes da comissão de inquérito apostam que dificilmente a punição de parlamentares acusados de participar do esquema ocorrerá ainda este ano.

"Se cem deputados tiverem de ser denunciados, melhor. O que não pode é uma instituição pagar pelo erro de alguns. Isso, enquanto eu for presidente (do Senado), não vai acontecer", afirmou Renan. A decisão sobre o futuro dos deputados e senadores envolvidos com a máfia das ambulâncias deverá ficar para o ano que vem, a cargo do novo Congresso que será eleito em outubro. Há, no entanto, divergências sobre a legalidade de parlamentares acusados nesta legislatura serem julgados em um processo por falta de decoro em uma nova legislatura, com um novo Congresso eleito. Ou seja: há o risco de os envolvidos acabarem ficando impunes.

Para justificar sua resistência à criação da CPI dos Sanguessugas, Renan argumentou que o pedido de indiciamento de parlamentares pela Procuradoria Geral da República é fruto das investigações que vêm sendo feitas há anos. "Eu disse: 'Olha, esse assunto está sendo investigado há dois anos, já está bastante avançado, algumas pessoas já foram representadas junto ao Supremo Tribunal Federal.' Mas insistiram com a CPI. Para ser coerente, eu fiz a CPI. Agora, é o caso de cobrar resultados", ponderou o presidente do Senado.

Ele defendeu a tese de que a CPI dos Sanguessugas deve funcionar normalmente durante o recesso de julho, previsto para começar no dia 15. "Os integrantes da CPI têm autonomia para tudo, para fazer calendário, convocar pessoas, requisitar informações. Se quiserem trabalhar durante o recesso, recomendo que eles trabalhem. Eu os aparelharei com o que for necessário. Já que insistiram em fazer a CPI, já que querem os fins, vou dar os meios", disse Renan.

Em sua primeira reunião, a CPI dos Sanguessugas deverá marcar a data dos depoimentos da ex-assessora especial do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino e do empresário Darci Vedoin, sócio-presidente da Planam Indústria e Comércio Ltda. Acusada de intermediar o esquema das ambulâncias no Executivo, Maria da Penha está presa em Cuiabá e apontou 81 parlamentares que teriam participado da fraude. Vedoin é acusado de ser o chefe da quadrilha para a compra de ambulâncias para municípios, que era precedida de um acerto com os prefeitos para fraudar a licitação e, assim, superfaturar o preços dos veículos. Na reunião, os integrantes da CPI também deverão aprovar requerimentos com a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Maria da Penha e de Darci Vedoin.

Grampos telefônicos feitos pela polícia revelaram que gabinetes de deputados funcionavam como pequenos escritórios comerciais. Diálogos entre empresários, assessores e até políticos narravam como funcionava o esquema. O deputado recebia a propina caso propusesse uma emenda orçamentária para a compra das ambulâncias. Era acertado com a quadrilha até um porcentual pela ação parlamentar.