Título: Tropas israelenses invadem Gaza em busca de soldado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Internacional, p. A12

Israel invadiu na madrugada de hoje (horário local) a Faixa de Gaza para resgatar o soldado Guilad Shalit, capturado por militantes palestinos que no domingo atacaram um posto do Exército israelense, perto da fronteira com esse território. Esse é o primeiro grande ataque terrestre israelense contra a região desde que o país retirou, em setembro, suas tropas e colônias judaicas de Gaza.

Pouco depois, os grupos palestinos que capturaram o soldado ameaçaram matá-lo se Israel não puser fim à ofensiva.

Tropas e tanques invadiram o território pela área de Rafah, no sul, depois que a aviação bombardeou duas pontes que conectam o norte ao sul do território para impedir que os militantes removessem Shalit para o norte. O setor de inteligência israelense acredita que Shalit esteja no sul, perto de Rafah.

A aviação também disparou mísseis contra estações de energia elétrica, deixando às escuras amplas áreas costeiras. Essa central distribui eletricidade proveniente de Israel para 70% do território, disseram funcionários do governo palestino.

Pouco antes do início da ofensiva, o Canal 2 da TV israelense informou que haviam fracassado as negociações mediadas por egípcios e franceses para obter a libertação de Shalit. A emissora anunciou que havia "chance zero" de recuperar o soldado por meio do diálogo - o que deixou claro que a invasão era imediata.

As três organizações que capturaram Shalit, entre as quais a ala militar do grupo radical islâmico Hamas, que governa a Autoridade Palestina, exigem que Israel solte todas as mulheres e menores de 18 anos presos em troca de informações sobre o soldado. São 313 adolescentes e 95 mulheres.

Ao longo do dia, o governo israelense negou que estivesse negociando com os grupos palestinos e reiterou a declaração do primeiro-ministro Ehud Olmert de que não se submeterá "à chantagem dos terroristas". Em seu site, o Hamas destacou a existência de um canal de comunicação com Israel sobre a libertação de prisioneiros em troca de Shalit. Militares israelenses disseram, extra-oficialmente, que uma equipe de negociações havia sido ativada.

O grupo Comitês de Resistência Popular, envolvido na captura, informou ontem que Shalit está em "um lugar seguro" e anunciou ter seqüestrado um colono judeu na Cisjordânia, fato que está sendo investigado pela polícia israelense. Um colono de 18 anos está desaparecido desde domingo.

Além dos Comitês e da ala militar do Hamas, participaram da captura do soldado militantes do desconhecido Exército Islâmico.

O caso expôs as divisões no Hamas. O governo, liderado pelo moderado Ismail Haniye, negou envolvimento e se empenhou, ao lado do presidente Mahmud Abbas, da Fatah, em obter a libertação do soldado. Mas a ala militar conta com o apoio do líder máximo do Hamas, Khaled Meshal, que vive no exílio, em Damasco.

Membros da cúpula do Hamas no exterior defenderam a captura do soldado e pediram aos palestinos que promovam outras ações como essa. Israel ameaçou assassinar os líderes do Hamas no exílio se o soldado não for libertado.