Título: Hamas reconhece implicitamente Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Internacional, p. A12

Depois de semanas de negociações, o grupo radical islâmico Hamas fechou ontem um acordo político com o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas - líder do Fatah -, sobre um documento que na prática implica o reconhecimento da existência de Israel.

O entendimento foi alcançado com base no chamado Plano dos Prisioneiros, elaborado por palestinos detidos em Israel. São 18 pontos, incluindo um que prevê a criação do Estado palestino nos territórios ocupados por Israel em 1967 (Faixa de Gaza e Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental). Também estabelece o fim dos ataques em território israelense. Na prática, isso significa o reconhecimento da fronteira de 1967, ou seja, a aceitação do Estado judeu, cuja destruição o Hamas prega em sua carta de fundação.

No entanto, depois da divulgação do acordo, dirigentes do Hamas negaram ter abandonado sua posição. "Dissemos que aceitamos um Estado no território ocupado em 1967, mas não dissemos que aceitamos dois Estados", argumentou o deputado do Hamas Salah al-Bardaweel. Um assessor de Abbas insistiu ter ficado clara a aceitação de Israel e acusou o Hamas de "jogar com palavras para ter uma saída honrosa". Negociadores do Hamas disseram à BBC que o Estado palestino será o primeiro, e não o último passo, na luta por toda a Palestina histórica (que inclui Israel).

O acordo, firmado por todas as facções, com exceção da Jihad Islâmica, tem como principal objetivo garantir uma estratégia para um governo de unidade e reverter o boicote internacional à AP, iniciado depois da posse do Hamas no governo, em março. Outros pontos importantes são a formação de um governo composto por todos os grupos no Parlamento e a aceitação de Abbas como o representante palestino em negociações com Israel.

A iniciativa foi recebida como um primeiro passo pela União Européia e vista com reservas pelos EUA, que insistiram que o boicote só será levantado se o Hamas reconhecer Israel, renunciar à luta armada e endossar os acordos de paz.

Israel informou apenas que considera o acordo " assunto interno palestino", que não pode servir de base para nenhuma negociação futura entre as duas partes.