Título: México tem eleição de US$ 1,1 bi
Autor: Denise Dresser
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Internacional, p. A14

Após seis meses de uma campanha dominada por ataques pessoais e polarizada entre dois projetos antagônicos para a presidência do México, os candidatos fazem hoje seus últimos comícios. De um lado está Andrés Manuel López Obrador, populista de esquerda de 52 anos com fortes inclinações estatistas, almejando um país mais voltado para si - ontem, disse que não será "boneco de nenhum país estrangeiro". De outro, Felipe Calderón, conservador de 44 anos que aposta na economia de mercado e na globalização. A partir de meia noite ficam proibidos anúncios ou qualquer atividade eleitoral antes do pleito do domingo. As últimas pesquisas mostram López Obrador e Calderón empatados, sem previsão de vencedor.

Seja quem for, essa eleição será uma das mais caras da história das democracias. De acordo com o Instituto Federal Eleitoral (IFE), o pleito custará 12,9 milhões de pesos, cerca de US$ 1,1 bilhão, aos cofres públicos. O equivalente a US$ 400 milhões foram entregues aos três principais partidos e coalizões e a dois candidatos nanicos. Até a sexta-feira, eles haviam gasto mais da metade da dinheirama em anúncios de rádio e televisão.

"Nossa democracia é muito cara e devemos rever os custos da campanha para a população", reconheceu ontem Calderón, candidato que mais gastou com anúncios em televisão.

À verba oficial do IFE, é preciso somar dezenas, talvez centenas de milhões de dólares desembolsados pelas organizações partidárias nos 32 Estados do país. A soma põe o custo da eleição mexicana no patamar das caríssimas disputas à Casa Branca.

O generoso financiamento público foi uma das medidas adotadas para combater a arraigada cultura de fraude eleitoral no México. Luiz Carlos Ugalde, um dos nove conselheiros do IFE e seu atual presidente, acha que o investimento valeu. "Quase 70% dos mexicanos dizem que confiam no IFE, hoje a instituição pública com maior credibilidade no país."

Apesar dos inegáveis progressos institucionais feitos desde 1988, quando o Partido Revolucionário Institucional (PRI) tungou a eleição ganha pelo oposicionista Cuauhtémoc Cárdenas, as práticas tradicionais de coerção e compra de votos persistem e podem fazer a diferença na acirrada disputa.

Teme-se que isso possa criar um cenário de acusações de fraude entre partidos e militantes nas ruas. Outro temor é saber se López Obrador e Roberto Madrazo, candidato do PRI, aceitarão o resultado do IFE e controlarão seus militantes, caso Calderón vença.