Título: Kirchner volta à carga nas Malvinas
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Internacional, p. A15

O governo do presidente Néstor Kirchner está deflagrando uma dura ofensiva diplomática para reaver as ilhas Malvinas, sob controle britânico desde 1833. Kirchner decidiu arquivar a política que os governos argentinos vinham tendo até o momento - de negociar com a Grã-Bretanha de forma suave - e imprimir um tom mais agressivo na reivindicação pela posse das ilhas. Para isso, o presidente argentino iniciou uma campanha em órgãos internacionais, especialmente as Nações Unidas, para que intermedeiem as negociações com Londres.

No ano passado, o governo argentino enviou 15 protestos por ações do governo britânico nas ilhas, tais como a emissão de licenças para exploração de minério no arquipélago e a manutenção da imensa base aeronaval britânica. Desde o início deste ano, o chanceler Jorge Taiana insiste em pedir ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que o organismo convença a Grã-Bretanha a debater a soberania das ilhas. A ofensiva também tem um viés eleitoral. No ano que vem Kirchner - segundo assessores e analistas - tentaria a reeleição. A reivindicação passional das ilhas costuma angariar muitos votos.

Kirchner está irritado com o anúncio feito pelo secretário de Defesa britânico, Tom Watson, de que seu governo realizará em 2006 grandes celebrações pelo 25.º aniversário da vitória inglesa na Guerra das Malvinas. Além disso, o governo está "preocupado" pela ampliação dos prazos das permissões que a Grã-Bretanha concedeu a grupos empresariais internacionais para a pesca e exploração de petróleo no litoral das Malvinas. O deputado Jorge Argüello, presidente da Comissão de Relações Externas da Câmara, disse que o governo britânico está tomando decisões ilegítimas ao ampliar concessões que tradicionalmente eram dadas por 1 ano para 25 anos.

Amanhã, no Congresso Nacional, começam os trabalhos do Observatório Parlamentar sobre as Malvinas, cuja missão será definir as estratégias que substituirão a já arquivada "política de sedução". Esta semana se reúnem representantes dos dois países para discutir a remoção das minas que os argentinos deixaram nas Malvinas.

Em Port Stanley, capital das ilhas, os conselheiros do governo local analisam a procura, a médio prazo, da "plena independência". Essa possibilidade aterroriza o governo argentino, que prefere negociar diretamente com Londres, em vez de discutir com os kelpers (os moradores locais), de posições profundamente antiargentinas.

Nos anos 90, o então chanceler Guido Di Tella aplicou o que denominou de "política de sedução" dos kelpers. Di Tella propôs dar US$ 1 milhão a cada um em troca da aceitação da soberania argentina das ilhas. Nenhum dos 2 mil kelpers aceitou. Kirchner diz que essa política causou retrocessos na reivindicação do arquipélago.