Título: Boeing não exerce o direito de arrestar sete aviões
Autor: Alberto Komatsu, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

A Boeing não arrestou nenhum avião da Varig, apesar de ter obtido na Justiça americana na semana passada o direito de arrestá-los até ontem. Segundo a Varig, todos os sete aviões continuam voando. ¿Não há nenhum avião parado por ameaça de arresto¿, informou a empresa, por meio de sua assessoria.

A atitude da Boeing surpreendeu os analistas que acompanham de perto a crise da Varig. Eles apostavam que não só a Boeing iria pegar imediatamente os aviões, cujos alugueis estão atrasados, mas que isso abriria um precedente para as demais empresas de leasing.

Fontes ligadas a algumas das empresas que fornecem aviões para a Varig revelam que por trás dessa trégua estariam potenciais interessados em adquirir a Varig e, em especial, o presidente da TAP, Fernando Pinto, tido como bem relacionado com empresas de leasing.

Pinto tem mantido conversas com essas empresas em nome da Aero-LB, empresa brasileira que comprou a Varig Engenharia e Manutenção (VEM) e tem como sócios estrangeiros a TAP e o magnata dos cassinos de Macau, Stanley Ho. De acordo com as mesmas fontes, Pinto estaria negociando uma repactuação da dívida contraída após a entrada em recuperação judicial, para o caso de conseguir negociar uma proposta alternativa de compra da Varig.

No caso específico da Boeing, a Varig conseguiu negociar um acordo extrajudicial no início da semana. Segundo fontes próximas à Boeing, a Varig pediu um prazo até que o juiz Luiz Roberto Ayoub decida sobre a homologação da proposta da NV Participações, a empresa dos trabalhadores que fez o único lance pela Varig durante o leilão judicial. Mas, apesar de o juiz ter adiado por duas vezes e, da última vez, por tempo indeterminado, sua decisão, a Boeing decidiu não arrestar.

¿Ninguém vai retirar aviões abruptamente¿, afirmou uma fonte ligada a algumas empresas de leasing. ¿As empresas estão esperando a Varig parar por conta própria.¿

O consultor Paulo Sampaio considerou estranha a atitude das empresas de leasing. ¿Que a BR Distribuidora e a Infraero ameacem parar de fornecer ou peçam pagamento à vista, mas na hora H não tenham coragem, para não serem responsabilizadas pela falência, a gente entende, pois estamos falando de estatais¿, diz Sampaio. ¿Mas as empresas de leasing são entidades privadas que não costumam queimar dinheiro.¿

A recuperação judicial da Varig, que completa um ano hoje, protege a empresa de pedidos de falência de credores que têm créditos anteriores ao pedido de recuperação apenas. ¿A Varig não paga compromissos correntes, mas mesmo assim ninguém pede a falência¿, afirma Sampaio. ¿É difícil de entender.¿

Na avaliação do consultor, é pior para as empresas de leasing esperarem a Varig parar. ¿Elas conseguiriam tirar os aviões mais rapidamente com a Varig operando.¿