Título: Mercosul terá tribunal para crise Argentina-Uruguai
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

Tabaré não conseguiu a intemediação do governo brasileiro e paraguaio

O governo do uruguaio terá de recorrer a um tribunal arbitral do Mercosul para reclamar dos prejuízos que sua economia sofreu entre dezembro de 2005 e março de 2006 por causa dos piquetes realizados por manifestantes argentinos em duas das três pontes que ligam o país com a Argentina, impedindo a passagem de turistas e mercadorias.

O governo do presidente Tabaré Vázquez alega que o princípio básico do Mercosul, o de livre circulação dentro do bloco do Cone Sul foi violado, com a conseqüente perda de US$ 500 milhões para a economia do Uruguai.

Em vez de uma solução política rápida, o Mercosul optou pela formação de um tribunal, que será constituído em breve, embora sem prazo definido.

A decisão de tentar resolver o caso com um tribunal foi tomada pelos chanceleres dos países do Mercosul, que se reuniram ontem em Buenos Aires para preparar a agenda da reunião de presidentes do bloco que será na cidade argentina de Córdoba nos dias 20 e 21 de julho.

A queixa uruguaia é mais um capítulo dentro da denominada Guerra da Celulose, que confronta a Argentina e o Uruguai desde agosto do ano passado, e se transformou na maior crise diplomática bilateral desde 1955. O pivô do confronto é a construção de duas megafábricas de celulose no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o Rio Uruguai, que divide os dois países.

O governo do presidente Néstor Kirchner exige a suspensão das obras, alegando que elas causarão problemas ambiental e econômico à região da fronteira. O governo Tabaré contra-argumenta, afirmando que as empresas não poluirão a região. Além disso, afirma que as fábricas são cruciais para a recuperação econômica do país. A instalação das empresas implica num investimento de US$ 1,8 bilhão, o equivalente a 13% do Produto Interno Bruto uruguaio.

Em protesto contra as fábricas, dezenas de milhares de manifestantes argentinos (basicamente habitantes da região da fronteira, junto com ecologistas) bloquearam as vias de acesso às pontes que ligam os dois países. O Uruguai considera que foi vítima de um "verdadeiro bloqueio econômico".

No entanto, apesar dos pedidos uruguaios para que a questão fosse analisada pelo bloco, Brasil e Paraguai consideram que o caso é só entre Argentina e Uruguai. Uma solução "regional" ao caso foi descartada, deixando o governo do presidente Tabaré isolado.

"Somos membros de uma família, o Mercosul. Mas, às vezes, não dá para interferir na solução. Esta é uma questão bilateral", explicou o chanceler brasileiro Celso Amorim.

O QUINTO SÓCIO

Os chanceleres também assinaram acordo que determina a entrada da Venezuela como o quinto sócio do Mercosul, cuja base havia sido definida há poucas semanas. O acordo ainda será selado oficialmente durante a reunião de cúpula dos presidentes do Mercosul em julho.

O chanceler venezuelano, Alí Rodriguez, celebrou: "É um momento histórico. Desde 1991 nenhum país entrava no Mercosul".

O chanceler Amorim, minutos depois, afirmou à imprensa brasileira que a entrada do quinto sócio "cria uma espinha vertebral muito forte" para o Mercosul, que "deixa de ser algo só do Cone Sul, pois agora vai desde a Tierra del Fuego até o Caribe".