Título: Importação de duráveis cresce 62%
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

Eletroportáteis trazidos da Ásia responderam pela maior parte do aumento nas quantidades vindas do exterior

Dólar barato e a grande escala de produção de eletroportáteis dos países asiáticos fizeram com que indústrias estabelecidas aqui optassem por importar produtos prontos a criar novas linhas de fabricação no País este ano.

Essa distorção está espelhada nos índices de quantidades importadas de bens duráveis, calculado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). De janeiro a abril, as importações de bens duráveis cresceram 61,6% ante o mesmo período de 2005. "Essa importação está concentrada nos eletroportáteis", observa o economista da LCA Consultores Braulio Borges.

Ele diz que os automóveis e os eletrodomésticos da linha branca, como geladeiras e fogões, e da linha marrom, como os televisores, tiveram praticamente participação inexpressiva nessa taxa de crescimento. No caso dos automóveis, o Imposto de Importação é elevado (35%) e, nos eletrodomésticos, as vantagens competitivas oferecidas pela Zona Franca de Manaus para fabricar esses itens no País desestimulam as importações.

De acordo com o estudo da LCA, a produção industrial dos bens duráveis ficou ligeiramente aquém da vendas do comércio no primeiro quadrimestre. As fábricas brasileiras produziram uma quantidade 10,8% maior neste ano comparado com o mesmo período de 2005, enquanto o acréscimo no comércio foi de 11%.

Um empresário do setor de eletroportáteis fez as contas e achou mais interessante importar do que fabricar localmente cafeteira, ferro de passar, forno elétrico, entre outros produtos térmicos.

Dois fatores pesaram na sua decisão. O primeiro, sem dúvida, diz o empresário, foi a escala de produção dos países asiáticos, com custos imbatíveis. A China por exemplo, a grande fábrica do mundo, produz anualmente 120 milhões de eletroportáteis. O segundo fator foi o dólar baixo que, segundo o empresário, ampliou as vantagens dos países asiáticos. "É impossível competir com os eletroportáteis com um dólar abaixo de R$ 2,60", afirma.

Além disso, com a importação o empresário se livra da amortização do investimento nos moldes de fabricação dos produtos. Num molde de um novo eletroportátil são gastos até R$ 300 mil, dependendo do produto, e leva-se de 3 a 4 anos para recuperar o capital investido. Também as importações dão maior mobilidade para as indústrias mudarem de um ano para o outro os modelos dos eletroportáteis.

Um dos resultados da decisão dessa indústria de importar a fabricar localmente novos itens foi a ampliação da fatia dos importados em seu mix de vendas. No ano passado, os importados representavam 10% do faturamento. Neste ano, a participação é de 25%.

BARATOS

A avalanche de importados tomou conta das lojas de produtos baratos. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares (ABIPP), Gustavo Dedividis, no primeiro semestre deste ano as importações de produtos populares cresceram 15% em valor e volume, comparadas com os mesmos meses de 2005. "A Copa do Mundo ajudou", diz o empresário. Segundo ele, 70% dos itens para o evento vieram da China.

Os 30 importadores que fazem parte da ABIPP e que distribuem produtos em 55 mil lojas devem fechar o ano com crescimento de vendas da ordem de 20%. Dedividis diz que está ocorrendo uma substituição de itens nacionais por importados.