Título: Importação reduz ritmo da indústria
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

O comércio cresceu num ritmo superior ao da indústria no primeiro quadrimestre deste ano . O dólar barato provocou um descolamento entre a produção industrial e as vendas no varejo. A diferença entre os dois indicadores foi compensada pelo aumento das importações, que seguraram a velocidade da produção industrial.

Essa trava na indústria deve ter impacto expressivo no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. "O PIB poderia 4,3% crescer neste ano , e não os 3,8% previstos, se não houvesse a contribuição negativa do setor externo", afirma o economista da LCA Consultores, Braulio Borges.

Estudo da LCA mostra o descompasso entre o desempenho da indústria e do comércio. Entre janeiro e abril deste ano, a produção física total da indústria cresceu 2,9% na comparação com o primeiro quadrimestre de 2005, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto isso, o volume de vendas físicas do comércio aumentou 5% e as quantidades importadas, 15,4%.

O estudo da LCA leva em conta a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE até março e a projeção da consultoria para abril e o índice de quantidades importadas calculado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex)

A maior discrepância entre o desempenho da indústria e do comércio no primeiro quadrimestre, observa Borges, ocorreu com os semiduráveis, que são basicamente os calçados e tecidos. Nesse setor, a produção da indústria deu marcha à ré: caiu 3,8% entre janeiro e abril deste ano ante 2005. Já as vendas do comércio aumentaram 5% em igual período. As quantidades importadas de bens de consumo semi e não-duráveis cresceram 4,9%.

Borges pondera que não há disponível um indicador de importações somente de produtos semiduráveis. Mas o indicador da Funcex é, segundo ele, uma boa estimativa do que ocorre no setor.

O quadro é semelhante no caso dos bens não-duráveis, que são os alimentos e artigos de higiene e limpeza. A produção industrial cresceu 2,8% no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2005. As vendas do comércio estimadas até abril aumentaram 5% e as importações, 4,9%.

O comércio confirma esse movimento. "Há indícios de que a venda de importados está crescendo, especialmente no segmento de vestuário e calçados", diz o economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri. Ele afirma que a diferença entre as taxas da indústria e do comércio não é hoje coberta pela desova de estoques.

Neste ano, por exemplo, as importações do Wal-Mart, a terceira maior rede de supermercados do País, cresceram 30%. Segundo a direção da companhia, com o dólar barato, houve um aumento das importações da linhas que a empresa já comprava do exterior, como artigos de vestuário, de bazar e eletroportáteis.