Título: Invasores ameaçam depredar se fazenda for desocupada
Autor: João Naves
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Nacional, p. A13

Líderes agora dizem não ter controle sobre mil famílias ocupantes de área em MS, que prometem matar rebanho

Os sem-terra que estão ocupando a Fazenda Teijin, em Nova Andradina (MS), prometem depredar a propriedade e matar parte de seus 10 mil bois, caso seja cumprida a decisão da Justiça Federal de Dourados que terça-feira mandou desocupar a área, de 28.500 hectares. Há mais de mil famílias na fazenda.

Os líderes dos movimentos responsáveis pela ocupação agora dizem não ter controle sobre os invasores. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Andradina, ligado à Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), Adilson Emelli, a expectativa em torno da desocupação é de haver "conseqüências catastróficas". Ele afirmou que tanto o sindicato quanto a Fetagri perderam o controle da situação na fazenda. "As 600 famílias que estão lá dentro, integrantes do sindicato, não respeitam mais nossa orientação." O Movimento dos Sem-Terra (MST) tem 457 famílias na propriedade e também tenta se afastar de responsabilidades pelo que possa ocorrer na desocupação judicial.

O advogado do grupo agropecuário Teijin, Diamantino Silva Filho, confirma que o clima na fazenda é muito tenso. "Eu lamento essa situação", disse ontem. "Queremos uma desocupação pacífica. Para tanto, pedimos força das polícias federal e militar. Os policiais sabem como lidar com essa situação."

Silva Filho explicou não ter previsão sobre o dia do cumprimento da ordem judicial. "Pode acontecer a qualquer momento. Acredito que seja o mais breve possível, pois a Justiça Federal determinou desocupação imediata." O advogado espera solução sem violência. "Tomei algumas medidas preventivas, que ainda não posso revelar, para que o trabalho seja realizado da melhor forma possível."

A Procuradoria Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) entrou ontem com recurso no Tribunal Regional Federal (TRF) tentando suspender a decisão da Justiça Federal.

A disputa pela Fazenda Teijin começou em 2001, quando o Diário Oficial da União publicou decreto desapropriando a área, com base na avaliação técnica que constatou baixa produtividade. Os proprietários recorreram à Justiça, por haver laudo técnico do Incra que apontava a fazenda como produtiva e desaconselhava a desapropriação.Em plena batalha judicial, o Incra autorizou que 1.057 famílias se instalassem na área. No início do mês, o TRF suspendeu os efeitos da desapropriação.

A coordenação estadual do MST divulgou ontem uma nota afirmando que não existem reféns na Fazenda Teijin. "As pessoas podem circular livremente na área e sair do local", diz a nota, esclarecendo que o objetivo da ação é impedir a retomada do trabalho na propriedade. A nota também classifica como "absurdo dizer que os animais estão sendo impedidos de comer, já que o gado se alimenta de pasto".

A nota não esclarece que o pessoal da fazenda pode circular, desde que não use cavalo ou qualquer outro veículo.