Título: Supremo manda apurar se Mentor recebeu de doleiro
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2006, Nacional, p. A7

Otterloo disse que pagou para evitar citação em relatório

A pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cezar Peluso abriu inquérito a respeito da acusação de que o deputado José Mentor (PT-SP) teria recebido R$ 300 mil para excluir do relatório final da CPI do Banestado o nome do doleiro Richard Andrew de Mol Van Otterloo. Mentor foi o relator da CPI do Banestado, que investigou esquema de envio de remessas ilegais de dinheiro para o exterior em 2003 e 2004.

Em um despacho de apenas um parágrafo e datado do último dia 7, Cezar Peluso determinou que o inquérito fosse remetido à Polícia Federal para a realização de quatro diligências. O conteúdo dessas diligências não foi revelado ontem nem pelo Supremo nem pela Procuradoria-Geral da República.

José Mentor foi absolvido recentemente pela Câmara num processo por quebra de decoro parlamentar, em que era suspeito de envolvimento com o esquema do mensalão. Ele também não foi denunciado pelo procurador-geral da República no inquérito aberto no STF para apurar o suposto pagamento do mensalão a parlamentares.

A nova acusação contra Mentor surgiu num depoimento espontâneo prestado por Otterloo a integrantes do Ministério Público de São Paulo no início de abril. O doleiro tinha a expectativa de reduzir uma pena de seis anos de prisão à qual foi condenado pela Justiça - o dispositivo da delação premiada prevê redução de pena para quem colaborar com investigações.

Otterloo afirmou aos procuradores paulistas que pagou a um intermediário do deputado petista R$ 300 mil para que seu nome fosse retirado do relatório final da CPI - que pediu o indiciamento de 91 pessoas . "Tal valor foi efetivamente pago em espécie (reais) em um flat localizado no bairro do Itaim Bibi, nesta capital, ao intermediário indicado por José Mentor", afirma o termo de declaração do depoimento.

Na ocasião, o doleiro disse que recebeu o relatório final da CPI em disquete antes da data marcada para sua apresentação pelo deputado, para verificar que seu nome não estava entre os acusados por Mentor.

CORREGEDORIA

Após o depoimento, a Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo encaminhou à Câmara uma representação, pedindo que fosse apurada a suposta participação do deputado. Por esse motivo, além do inquérito no STF, foi aberta uma investigação na Corregedoria da Câmara sobre as acusações de Otterloo têm fundamento.

Ontem o deputado não comentou a decisão de Peluso de abrir inquérito. Mas na época em que a acusação de suposto recebimento de propina do doleiro surgiu Mentor afirmou, por meio de sua assessoria, que a considerava "absurda" e que nunca recebeu R$ 300 mil de doleiro nem de qualquer outra pessoa. Ele disse que estava sendo acusado por ter atuado de forma séria na CPI do Banestado e provocado a raiva de diversos doleiros que tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrado durante a investigação.