Título: Na véspera da reunião do Fed, tensão contamina os mercados
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

A tensão dominou o mercado financeiro ontem, na véspera da reunião que define o rumo dos juros nos Estados Unidos. A expectativa em torno do encontro do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que começa hoje e termina amanhã, trouxe volatilidade aos ativos, derrubou as Bolsas mundiais e elevou o risco dos países emergentes. Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 1,09%; o Nasdaq, 1,57%; e o Standard & Poor's 500, que inclui as maiores empresas, recuou 0,91%.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) tentou descolar-se do mercado internacional, mas não resistiu. Abriu em alta, bateu nos 35 mil pontos e manteve-se em terreno positivo até o início do jogo entre Brasil e Gana, pela Copa do Mundo. Na volta do pregão, a Bolsa paulista começou a recuar e terminou em queda de 0,74%, nos 34.375 pontos. O dólar fechou em alta de 0,31%, cotado a R$ 2,238.

O mercado europeu também teve um dia conturbado. Quase todas as Bolsas terminaram em queda (ver quadro), também repercutindo a divulgação de alguns indicadores americanos, como os de confiança e de imóveis. O componente que retrata a percepção do consumidor com a situação dos EUA recuou de 134,1 para 132,7. É a segunda queda consecutiva. "Um sinal de que a economia está mudando para um viés mais fraco no segundo semestre do ano", afirmou Lynn Franco, que dirige o Centro de Pesquisa do Consumidor. Já a venda de imóveis usados caiu 1,2%.

Na América Latina, o índice Merval, da Argentina, caiu 1,38% e o IPC, do México, 2,54%. A tensão pré-reunião do Fed também pressionou o risco de alguns países emergentes, que na média subiu 1,29%, para 235 pontos. O risco do Brasil, no entanto, teve alta maior. Avançou 2,3% e atingiu 267 pontos. Na Argentina, o índice medido pelo JP Morgan subiu de 412 para 424 pontos, e no Equador, de 525 para 530 pontos.

Tudo isso porque há uma enorme indefinição em relação à política monetária de Ben Bernanke, presidente do Fed. Desde que substituiu Alan Greenspan, o mercado anda ressabiado, pois não consegue decifrar os sinais dados pelo chefe máximo do Fed.

"O problema do mercado não é se os juros dos EUA vão atingir 5,25% ou 5,5% ao ano amanhã, o problema é se o patamar for outro, acima de 6%", afirma o economista da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa.

Toda essa incerteza afeta as decisões dos investidores sobre o destino do dinheiro. Uma alta maior dos juros significaria desaceleração da economia dos Estados Unidos e, conseqüentemente, do mundo. Nesse cenário, os investidores procuram aplicações mais seguras, como os títulos americanos, e fogem de ativos de maior risco, como os papéis de mercados emergentes, como o Brasil.

Segundo o gerente de Renda Fixa do Banco Prosper, Diego Beleza, para a reunião de amanhã quase todas as apostas são de alta de 0,25 ponto. As chances de o Fed elevar em 0,5 ponto as taxas estão entre 8% e 10%, afirma ele. "O medo verificado hoje (ontem) entre os investidores está numa possível alta adicional, já que o preço dos ativos embute só mais duas altas de 0,25 ponto."

Amanhã, analistas e economistas não estarão de olho apenas no número apresentado por Bernanke. O mais importante será o comunicado oficial da autoridade monetária. "Queremos observar quais os sinais que o Fed dará ao mercado: se é o fim do aperto monetário ou não", afirma o economista da López León, Flávio Serrano. A próxima reunião do Fed será em agosto.