Título: Analistas vêem diferença entre o Brasil e outros emergentes
Autor: Nalu Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

As recentes ocorrências no mercado de câmbio dos países emergentes indicam que pode não passar de mito a percepção de que estas economias formam um único bloco, cujas partes seriam afetadas de uma mesma maneira em um período de turbulência. A ponderação é feita pelo especialista Gray Newman, do Morgan Stanley, mas outros analistas em Wall Street também diferenciam o Brasil na avaliação sobre a situação dos países no atual momento de turbulência ante as incertezas em relação aos juros internacionais. Entre os fatores da diferenciação, os especialistas citam os resultados das contas externas - positivos no Brasil e negativos em outros emergentes, como a Turquia.

Uma pista que ajuda a confirmar a avaliação do analista do Morgan Stanley sobre os países emergentes pode ser encontrada nas recomendações de estrategistas de outras instituições baseadas em Nova York. Há indicações de que investidores estrangeiros estão reduzindo posições compradas em lira turca, enquanto recomendam posições em real.

Os eventos da última semana mostraram sinais de uma crise clássica nos mercados emergentes, reconhece Newman, com moedas da Turquia, África do Sul e Hungria sofrendo pesadas perdas. O ápice foi o BC turco forçado a elevar o juro pela segunda vez no mês, totalizando 4 pontos porcentuais apenas em junho, observa.

Contudo, o grupo dos emergentes não teve um comportamento monolítico. Por exemplo, na última semana, em oposição ao que foi visto com a moeda turca, a moeda brasileira voltava a ganhar terreno e o BC do México mostrou que está pouco preocupado com os tremores nos mercados emergentes, diz o analista.

Para Newman, está "começando a ser visto um tipo de diferenciação entre os emergentes, que é saudável". "No meu livro, há a diferença entre países que operam em superávit de conta corrente (como o Brasil) e países como a Turquia, onde o déficit alcançou 6,5% do PIB no ano passado, ou a África do Sul (com déficit de conta corrente de 6,4% no primeiro trimestre do ano)."

De fato, a diferenciação saudável que os investidores têm feito entre os países que integram os mercados emergentes, citada por Gray Newman, encontra reflexo nas estratégias de outras instituições baseadas em Nova York, como Citigroup e Dresdner Kleinwort Wasserstein. Por meio das recomendações, fica claro que as diferentes estratégias têm como base o panorama macro de cada um dos países.