Título: Proposta da VarigLog corre risco
Autor: Alberto Komatsu e Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

A Justiça do Rio decide hoje o destino da Varig: se decreta a falência, se convoca novo leilão ou chama os credores para avaliar a proposta da VarigLog. Também hoje, a Corte de Falências de Nova York decide se aceita o arresto de aviões pedido pelas empresas de leasing.

Na semana passada, a Corte americana condicionou a prorrogação da liminar que protege os aviões de arresto ao pagamento de US$ 75 milhões pela NV Participações, que arrematou a empresa em leilão, em junho. Como a empresa, ligada ao TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), não depositou o dinheiro, a Justiça brasileira anulou a venda.

A VarigLog, que ontem fez novos depósitos para manter a companhia em operação, também entrega hoje, no Tribunal do Rio, uma nova proposta pela Varig, com modificações exigidas pelo administrador judicial, a consultoria Deloitte. Elas visam a adaptar a proposta ao Plano de Recuperação Judicial. Assim, tenta-se evitar que a proposta tenha de passar por uma nova assembléia de credores.

A oferta de cerca de US$ 500 milhões que a VarigLog fez pela Varig pode se tornar inviável por causa de duas reviravoltas no caso, anteontem. A primeira foi a liminar obtida pela Fazenda Nacional que determina que o dinheiro obtido no leilão sirva para abater dívidas tributárias e previdenciárias da Varig.

A outra foi o pedido do administrador judicial da Varig de garantir a continuidade das operações da antiga Varig, que herdaria as dívidas e teria 5% das ações da Varig.

"Nossa proposta pode cair no vazio", diz uma fonte da VarigLog. O problema é que o valor que a ex-subsidiária ofereceu pela Varig, cerca de R$ 1,115 bilhão, não cobre a dívida com a União, de R$ 2 bilhões, e com o INSS, de R$ 1,5 bilhão.

Portanto, não sobraria dinheiro para pagar débitos com outros credores estatais e privados. Antes da liminar obtida pela Fazenda, estava definido que esses credores receberiam parte do dinheiro do leilão para amortizar seus débitos.

A proposta da VarigLog estava condicionada a outra pendência. A ex-subsidiária foi comprada em dezembro de 2005 por US$ 48,2 milhões pela Volo. A negociação, porém, só foi aprovada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na sexta-feira, após a divulgação dessa condição. Credores da Varig têm dúvidas quanto à proposta da VarigLog.

Ainda não houve reunião de apresentação para os principais credores, como nas propostas anteriores. Ontem, um representante de um credor privado informou que teria o primeiro contato com representantes da VarigLog. A empresa limita-se a informar que estão ocorrendo reuniões "para avançar nas negociações".

Uma das preocupações é com os recursos que seriam usados para pagar as dívidas mais recentes e qual a viabilidade da Varig antiga, com a qual ficarão as dívidas mais pesadas, anteriores à adesão ao Plano de Recuperação Judicial e parceladas em prazos acima de dez anos. "O credor quer resolver as dívidas de curto prazo; dinheiro no bolso, pronto", diz outro representante da VarigLog, citando que, caso a proposta contemple só investimentos na operação, "pode haver resistência de novo".