Título: EUA não têm pressa de concluir Rodada Doha
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2006, Economia & Negócios, p. B7

A representante do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, disse ontem que a eventual falta de acordo nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) que começam amanhã, em Genebra, não significa necessariamente o fracasso da Rodada Doha.

"Tentaremos chegar a um acordo o mais cedo possível, mas, se não ocorrer neste fim de semana, não quer dizer que não ocorra nunca", disse Schwab a congressistas americanos, em Washington, horas antes de partir para Genebra. "Não vamos nos apressar só para respeitar um prazo."

A OMC reúne nesta semana ministros de seus 149 países membros para tentar fazer o que não conseguiu nos últimos quatro anos de negociações: um acordo para derrubar barreiras ao comércio de serviços, de produtos agrícolas e industriais.

As declarações da representante dos EUA são uma tentativa de apagar a idéia de que a Rodada Doha pode acabar enterrada se não fechar um acordo até o fim do ano. Esse risco decorre do fato de expirar no dia 1º de julho de 2007 a autorização especial do governo americano (Trade Promotion Authority) para negociar acordos comerciais sem que o Congresso possa alterá-los.

Um dos que mais alertam para os riscos de fracasso é exatamente o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy. Para ele, as negociações precisam avançar rapidamente no sentido de alcançar resultados concretos.

Enterrar a Rodada Doha é exatamente a proposta de um grupo de mais de cem organizações não-governamentais (ONGs) que se opõem à liberação comercial que vem sendo negociada. Representantes do grupo, que inclui a Action Aid, Amigos da Terra e Focus on the Global South, disseram ontem que "as atuais negociações excluem qualquer possibilidade de benefício para a maioria da população mundial.

Para essas ONGs, a população da África e dos países em desenvolvimento seriam os maiores perdedoras com as atuais propostas sobre a mesa de negociações. Em carta a Lamy, disseram: "O resultado obtido até agora nas discussões multilaterais é inaceitável".

Como nas reuniões dos últimos quatro anos, a América Latina, maioria no Grupo dos 20 (G-20, que inclui China, Índia, África do Sul, México e Argentina, entre outros), liderado pelo Brasil, vai atacar a posição dos países ricos de tentar abrir os mercados industriais e de serviços dos países em desenvolvimento sem a devida compensação na abertura de seus mercados agrícolas.

O G-20 oferece acesso aos seus mercados industriais e de serviços em troca da redução dos subsídios agrícolas dos Estados Unidos e da União Européia (UE), de 75% e 85%, respectivamente. EUA e UE querem mais concessões do G-20. "Tudo está para ser posto na mesa", disse o ministro Roberto Rodrigues, do Brasil.