Título: Saulo tem suspeito para grampo
Autor: Juliano Machado
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2006, Metrópole, p. C4

O secretário de Segurança Pública, Saulo Abreu, disse ontem que as suspeitas de quem mandou instalar um sistema de escuta clandestina na sede da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) recaem sobre o ex-secretário-adjunto da pasta Clayton Nunes. Conforme revelou o secretário Antônio Ferreira Pinto em entrevista ao Estado publicada ontem, o alvo do grampo era o delegado Osvaldo Arcas, que fazia a comunicação entre a SAP e a Secretaria de Segurança. Saulo afirmou que achou ¿engraçada¿ a descoberta do grampo na linha telefônica do delegado. ¿O telefone era uma linha direta do Clayton que foi transferida para o Arcas. E ele foi escolhido pelo próprio Clayton.¿ O secretário, que participou da cerimônia em comemoração ao Dia do Bombeiro, disse desconhecer as razões para a instalação da escuta ilegal. ¿Acho que foi para ouvir as conversas, não sei o que ele imaginava. Talvez uma teoria da conspiração que não existe, pelo menos da nossa parte.¿ Há suspeitas de que o grampo fizesse parte de disputas internas na SAP, reflexo da rivalidade entre o ex-secretário da pasta Nagashi Furukawa e Saulo Abreu. O secretário de Segurança não acredita que o caso possa gerar uma turbulência nas relações entre as secretarias. ¿Foi só um ato isolado, que vai ser apurado em inquérito policial e com punição aos responsáveis. São falhas de caráter que não cabe ficar julgando publicamente.¿ A reportagem não conseguiu localizar Nunes, que está de férias. Saulo disse também que os assassinatos de agentes penitenciários - 4 nos últimos 5 dias - foram ¿atos covardes e individuais¿ praticados com a intenção de ¿criar um clima de que o governo `jogou a toalha¿¿. Entre os possíveis motivos para os crimes, Saulo citou questões de vingança pessoal ou uma suposta razão ideológica. ¿Há uma glamourização do bandido como se ele estivesse atacando os poderosos, o opressor, uma coisa à la Robin Hood. Como se um singelo ASP (agente de segurança penitenciária) fosse o símbolo do Estado opressor.¿

MEA-CULPA O secretário reconheceu que o Estado teve falhas que prejudicaram o enfrentamento da crise no sistema penitenciário paulista. ¿Acho que há duas vertentes em que talvez nós tivéssemos que ter tomado outra posição. E aí eu me incluo, não sou de empurrar responsabilidades para os outros.¿ Um dos erros seria a convivência de presos por crimes banais com seqüestradores ou integrantes de quadrilhas organizadas. O outro, ¿uma certa leniência com relação à disciplina nos presídios¿. Para Saulo, o problema está no fato de que um diretor de penitenciária já é bem avaliado se sua unidade não registrar rebeliões ou fugas. ¿Com isso a tendência é você se despreocupar e não ver o que realmente está acontecendo lá dentro. É a política do avestruz. Vai empurrando o problema com a barriga e depois ele estoura.¿ O secretário, porém, elogiou o trabalho de seu colega da Administração Penitenciária, Antônio Ferreira Pinto. Saulo cobrou também um debate sobre mudanças na legislação penal. ¿Até hoje o Brasil não tem uma qualificação para crime organizado¿, queixou-se, dizendo que pouco pode ser feito quando são encontrados celulares em ônibus com visitas a presos.