Título: Fed confirma risco inflacionário
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

Relatório do banco central americano mostra desaceleração da economia, mas inflação exige cautela

A economia americana deu sinais de desaquecimento nos últimos meses, mas ainda assim a inflação continua a preocupar, de acordo com o Livro Bege, divulgado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). O documento é um relatório periódico que o Fed faz sobre o desempenho econômico dos EUA e tem esse nome por causa da cor de sua capa.

Reforçando a preocupação do Fed, ontem foi também divulgado o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, da sigla em inglês), que subiu 0,4% em maio, depois de ter avançado 0,6% em abril. Mais preocupante foi a alta do seu núcleo, que avançou 0,3%, acima da expectativa dos analistas.

De acordo com o Livro Bege, houve alguns sinais de desaceleração. Em 4 dos 12 distritos do Federal Reserve - Atlanta, Kansas City, Richmond e São Francisco - a atividade econômica perdeu intensidade entre a metade de abril e o início de junho. Em sete - Boston, Chicago, Cleveland, Dallas, Minneapolis, Nova York e Saint Louis - houve estabilidade. Apenas o distrito de Philadelphia registrou avanço. Os dados foram coletados antes de 5 de junho.

Os gastos dos consumidores, que respondem por três quartos do Produto Interno Bruto (PIB) do país, aumentaram, mas houve sinais de cautela. "Em alguns poucos distritos do Fed a alta do preço da gasolina alterou padrões de consumo ou inibiu a perspectiva de compras. Em outros, a alta do juro também foi mencionada como fator de preocupação", informou o relatório. Com a alta do petróleo, em alguns Estados os americanos estão pagando o equivalente a R$ 1,85 por litro de gasolina, quase o dobro do preço pago há um ano.

Segundo o Fed, em apenas três distritos os varejistas estão conseguindo repassar os aumentos dos produtos ao consumidor. Nos demais, as indústrias estão assimilando a alta, por enquanto, e o varejo não tem problemas.

INFLAÇÃO

O núcleo do CPI - que exclui os preços voláteis da energia e dos alimentos - fez muitos analistas afirmarem que o Fed elevará o juro básico em 0,25 ponto porcentual, para 5,25% ao ano, na reunião do dia 29, para conter o potencial inflacionário. Mas outros observaram que o avanço foi puxado principalmente por fatores especiais ligados à forma como o governo mede os custos do setor da construção civil. "Este número é decepcionante, mas não é tão ruim como parece à primeira vista", disse Mark Zandi, economista-chefe do site Moody'seconomy.com. Mas Michael Gregory, economista da empresa canadense Nesbitt Burns, disse que o núcleo do CPI "praticamente garante uma nova alta do juro básico".

Durante entrevista na Casa Branca, o presidente George W. Bush foi indagado sobre a crescente preocupação dos americanos com o potencial inflacionário. Ele respondeu que confia no trabalho de Ben Bernanke, presidente do Fed, para impedir que isso se torne um problema. "A política monetária levará em grande conta os sinais de inflação. Este é o trabalho de Bernanke." O presidente do Fed foi um dos principais assessores econômicos de Bush.

Já o presidente do distrito de Dallas do Federal Reserve, Richard Fisher, admitiu que, no passado, o BC americano elevou demais o juro, "mas esse excesso é um risco que se corre no combate à inflação". Fisher disse que o Fed "pode ter ido um pouco longe demais em alguns ciclos de aperto monetário".

Mas ele comentou que os níveis atuais dos índices inflacionários poderiam levar a economia dos Estados Unidos a uma situação "insuportável".