Título: Empresas já dividem vôos daVarig
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

Predomina a impressão, em Brasília, de que a companhia aérea vai deixar o mercado aos poucos

Em recuperação judicial há quase um ano, o destino da Varig parece ser o de sair aos poucos do mercado. Foi essa impressão que prevalecia ontem, depois que dirigentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) passaram o dia reunidos com presidentes e representantes de todas as empresas aéreas regulares concorrentes da Varig. Na mesa, estava a definição de detalhes do plano de contingenciamento que deverá ser executado imediatamente, se a empresa em crise parar de voar. "A Varig está minguando", constatou um dos participantes da reunião.

No fim da tarde, o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, voltou a admitir que existe um plano de redistribuição das rotas da Varig e de atendimento aos passageiros, mas novamente se negou a detalhar qualquer ponto. "Não vou dar uma única vírgula porque não queremos criar uma situação de pânico."

Estiveram na Anac os presidentes da Gol, Constantino Junior, da Ocean Air, German Efromovich, da BRA, Humberto Folegatti, e os diretores da TAM, Paulo Castelo Branco, e da Webjet, Paulo Henrique Coco, além de representantes da Trip e da Total. Eles tiveram reuniões em separado com diretores e técnicos da agência. No meio do dia, segundo participantes, Zuanazzi deixou a Anac para informar à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o andamento das conversas.

Já estaria acertado, por exemplo, que a TAM herdará os destinos europeus, como Alemanha, Espanha e Itália, além dos Estados Unidos. A Gol ficaria encarregada da maior parte das rotas para os países da América do Sul e a BRA assumiria os vôos com destino a Lisboa. No mercado interno, a situação é considerada menos crítica.

INTERESSE

Segundo fontes envolvidas nas discussões, essa divisão foi feita a partir do interesse de cada empresa em expandir suas operações internacionais. Por causa do agravamento da crise da Varig, as concorrentes fariam uma antecipação dos seus planos de aumento de rotas internacionais. A Varig é hoje a empresa brasileira que mais detém autorizações para voar para outros países, somando cerca de 75% do total de destinos estrangeiros.

Em rápida entrevista, Zuanazzi não confirmou as informações e também negou a conversa no Palácio do Planalto. Segundo ele, os dados do setor aéreo têm de ser atualizados diariamente, daí a necessidade das reuniões com as empresas.

Sobre os cancelamentos de vôos da Varig que se intensificaram nos últimos dias e já somariam 60 desde sábado, o presidente da Anac disse que a empresa está cumprindo as obrigações quando essa situação acontece. "Ela (Varig) tem endossado todos os bilhetes e proporcionado hospedagem aos passageiros quando necessário." Segundo Zuanazzi, não houve recomendação formal da Anac às concorrentes para que aceitem os passageiros da Varig, pois isso não é necessário, já que se trata de "uma prática normal no mercado aéreo".

Interlocutores dos empresários, no entanto, contaram que existe uma preocupação da agência nesse sentido e houve um "apelo" da diretoria do órgão regulador para que o realocamento dos passageiros ocorra com o mínimo de prejuízo aos consumidores. Formalmente, a Anac ainda aguarda uma decisão do juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Federal do Rio, sobre o destino da Varig, para comentar publicamente suas ações.

Ontem técnicos e diretores da Anac também conversaram com dirigentes do Procon de São Paulo, que queriam esclarecer as dúvidas sobre como serão honrados bilhetes comprados e milhagens acumuladas pelos clientes da Varig em caso de falência da companhia aérea.