Título: Fatia do mercado pode cair para 10%
Autor: Nilson Brandão Junior, Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Economia & Negócios, p. B3

Cancelamentos e atrasos afastam ainda mais os passageiros da empresa, que já dominou mais de 50% do setor

A participação no mercado doméstico da Varig - que já dominou o setor com mais de 50% e hoje detém uma fatia de apenas 14,4% - caminha para um nível de 10%, caso seja mantido, para as próximas semanas, o cenário de cancelamentos de vôos registrado nos últimos dias. A projeção foi feita pelo especialista em aviação civil Paulo Bittencourt Sampaio. Ontem, a empresa não divulgou balanço de cancelamentos, como fez nos dois dias anteriores. No entanto, vôos previstos para o Rio e em outros aeroportos foram novamente suspensos.

No Aeroporto Santos Dumont, no Rio, a informação era de que cinco decolagens da ponte aérea para São Paulo foram canceladas, à tarde e à noite. Não foi informado o número de cancelamentos que também ocorreram pela manhã. No Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, também no Rio, pelo menos quatro partidas haviam sido suspensas, para Florianópolis e Brasília, além de chegadas de Brasília e de Foz de Iguaçu. Na Ponte Aérea, Sampaio informa que a taxa de ocupação da Varig tem sido na faixa de 36% há dois meses.

O especialista explica que, a continuar nessa "batida", a empresa terá uma forte reversão de tráfego, principalmente no mercado doméstico, no qual as opções são maiores, complementa Sampaio. Ele alerta que o efeito não se limita à redução da oferta. Na prática, os cancelamentos geram desconfiança entre os passageiros, que acabam ficando ainda mais cautelosos com a empresa. "Por isso, o reflexo na demanda é ainda maior", argumenta Sampaio.

O consultor da Bain&Company, André Castellini, conta que o peso da empresa no mercado já caiu para quase um terço da Gol e a imagem vem sendo desgastada. Ele cita que, no curto prazo, a Varig corre o risco de ter de se concentrar em passageiros que estão apenas atentos à oferta de preços mais baixos, o que reduziria a receita. "A Varig precisa se relançar, para isso, precisa de recursos, de um investidor forte", afirmou.

FERIADO

Ontem, véspera do feriado de Corpus Christi, o movimento no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, era intenso. No entanto, como nos dias anteriores, os balcões da Varig apresentavam movimento bem menor que o das concorrentes. Quem buscava os vôos da empresa estava aproveitando as tarifas menores. Também tentava usar as milhas acumuladas.

É o caso da farmacêutica Daniella Almeida: ela embarcava para Brasília no final da tarde, embora não tivesse necessidade de viajar neste momento. "Estou viajando para torrar as minhas milhas. Ainda tenho 70 mil para gastar ao longo deste ano." O vôo de Daniella estava atrasado uma hora e meia e ela chegou ao aeroporto apreensiva, pois não sabia se embarcaria ou não. Daniella sempre viajou pela Varig. Mas ,se tivesse de comprar uma passagem, o faria pela TAM, por medo de atrasos e cancelamentos.

O comerciante Marco Aurélio Antunes escolheu a Varig pelo fato de a empresa estar com uma tarifa mais barata. É o mesmo caso do técnico em eletrônica Renato Fiel, que comprou a passagem com um mês de antecedência. Ele viaja para o Rio. O analista de sistemas Victor Patrocínio pega a ponte aérea Rio-São Paulo duas vezes por semana. Ele não foi afetado pelos cancelamentos de vôos ocorridos nos últimos dias, mas tem receio de perder compromissos.

O piloto de Fórmula 3 Luiz Razia se preparava para embarcar para Brasília. Ele havia comprado uma passagem com a TAM, embora tenha milhas acumuladas da Varig, com medo de perder o compromisso. O piloto tem notado que os vôos têm tido uma ocupação menor nos últimos tempos - em média, 50% inferior. No entanto, ele disse que costuma aproveitar as tarifas da Varig, cerca de 10% mais baratas que as das concorrentes no horário comercial.