Título: Juiz adia resposta à TGV e assume negociação de acordo para a Varig
Autor: Alberto Komatsu, Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Ayoub conversou com o presidente da TAP, com o ex-presidente da VarigLog, consultores e outros executivos

O último capítulo da dramática novela da Varig foi novamente adiado, provavelmente para a semana que vem, mas sem data marcada. Ontem, o juiz da 8ª Vara de Recuperação Judicial do Rio, Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo processo, assumiu o papel de negociador do acordo financeiro e passou o dia em sucessivas reuniões com possíveis investidores.

O Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), único a apresentar proposta no leilão de quinta-feira passada, levou documentos ao juiz detalhando a oferta, mas não formalizou o nome de nenhum investidor que possa capitalizar o grupo, que não tem patrimônio nem faturamento para bancar a compra.

No início da noite, Ayoub estava reunido com investidores, mas a assessoria do Tribunal de Justiça anunciou o adiamento da decisão, informando que o juiz estava tentando "costurar" um novo acordo. Dia 21, vence o prazo dado pela Justiça de Nova York de proteção contra o arresto de cerca de 25 aviões da Varig por falta de pagamento do contrato de leasing.

Estiveram com o juiz o presidente da companhia portuguesa de aviação TAP, o brasileiro Fernando Pinto - que deixou o fórum dizendo que não pretende se associar ao TGV, como havia adiantado ao Estado - e o ex-presidente da VarigLog José Carlos Rocha Lima. O executivo está associado ao fundo americano Carlyle, que administra recursos da ordem de US$ 39 bilhões.

O vaivém de executivos da Varig, advogados e potenciais investidores na sede do Tribunal de Justiça do Rio começou de manhã. Ayoub deu início à bateria de reuniões com o reestruturador da Varig, Marcelo Gomes, da consultoria Alvarez & Marsal. Depois, outros executivos se juntaram às discussões, como o presidente da Varig, Marcelo Bottini, e o presidente do Conselho de Administração da companhia, Humberto Rodrigues Filho.

"Estamos discutindo com outros investidores a possibilidade de apresentar uma nova proposta", disse o presidente da TAP, reafirmando que tem conversado com o fundo de investimentos canadense Brookfield e com a companhia aérea canadense Air Canada.

"O interesse da TAP é a Varig como um todo, a companhia forte dentro da Star Alliance (aliança estratégica no setor aéreo que inclui a TAP e a própria Varig, entre outras)", acrescentou ele, reiterando que a empresa estatal portuguesa participaria de um eventual novo leilão, hipótese já admitida pelo juiz Ayoub, na terça-feira.

Por volta das 11h20, advogados do TGV compareceram ao tribunal para entregar a petição pedida por Ayoub com os esclarecimentos da proposta de US$ 449 milhões feita pela Varig. O juiz havia estipulado que a entrega de informações como origem do dinheiro e formas de pagamento por meio de papéis de dívida deveria - os chamados debêntures - deveria ser feita até o meio-dia.

O TGV, que fez a proposta por meio da empresa NV Participações, constituída para investir na Varig, entregou uma petição de 30 páginas, sem nenhum documento anexado, que o juiz Ayoub não teve tempo de analisar ontem.

O advogado da NV, Otavio Neves, disse que a a documentação continha todas as informações pedidas. Segundo fontes do mercado, o TGV estaria se associando ao grupo de Rocha Lima. Isso porque, segundo as fontes do setor, o investidor dos trabalhadores teria desistido de investir na Varig.

RISCO DE ARRESTO

No dia 21, a Varig terá importante audiência na Corte de Nova York, que definirá a continuidade de uma liminar que protege a empresa contra arresto de seus aviões arrendados. Com mais um adiamento da Justiça do Rio, ficou sem definição o depósito de US$ 75 milhões que o TGV teria de fazer em 72 horas, assim que sua oferta fosse homologada. A garantia desse dinheiro, vital para o fluxo de caixa da Varig e para a manutenção dos aviões, seria uma forma de sensibilizar a Justiça americana.

Até investidores de última hora apareceram no TJ com propostas. Antonio Carlos Dekleva, que se apresentou como vice-presidente da Market Street Holding Company do Brasil, disse que na terça-feira enviou ao TGV uma proposta de comprar a Varig caso a proposta dos trabalhadores fosse homologada. O executivo da suposta filial de um grupo canadense de mesmo nome disse que pagaria os US$ 449 milhões ao TGV com uma parcela inicial de US$ 100 milhões e outras de mesmo valor a cada 30 dias.