Título: Corredor ecológico não vinga
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Vida&, p. A18

Ligação entre parques da Serra das Confusões e Capivara (PI) foi decretada em 2005

O corredor ecológico que deveria unir os parques nacionais (Parnas) da Serra das Confusões e Capivara, no Piauí, ainda não saiu do papel, um ano e três meses depois de sua criação.

A greve dos servidores do Ibama, que durou 31 dias e foi encerrada no início deste mês, atrasou o processo. Desde o dia 22 de maio são os servidores do Incra que pararam as atividades. No ano passado, os servidores dos dois órgãos também haviam entrado em uma paralisação geral, em junho.

A última reunião do conselho, que precisa montar um plano de manejo sustentável para o corredor, aconteceu em fevereiro. A próxima foi marcada para julho. O conselho reúne Ibama, Incra, Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham, co-gestora do Parna da Capivara) e Instituto de Terras do Piauí, além de sindicatos e outros representantes da sociedade civil.

A portaria que criou o corredor foi assinada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva em 11 de março do ano passado. A intenção é recuperar e conservar os ecossistemas de caatinga da região, além de permitir o trânsito de animais entre os dois parques - movimento essencial para a saúde e a manutenção das espécies.

Outra portaria assinada neste ano por Marina Silva criou o segundo corredor da caatinga, ligando oito unidades de conservação.

CONFUSÕES

Entre Confusões e Capivara moram cerca de 1.100 famílias que precisam ter sua situação fundiária regularizada, explica o superintendente do Ibama no Piauí, Romildo Mafra.

Segundo o superintendente do Incra no Piauí, Ladislau João da Silva, 532 famílias já foram beneficiadas até agora. Elas poderão pleitear um crédito próprio para conservação ambiental, que varia de R$ 1,5 mil a 2 mil, quando o corredor for implantado. "O projeto vai facilitar a vida deles, pois terão melhores condições financeiras", diz.

Há assentamentos rurais nas proximidades. A caça, apesar de proibida, é uma prática corrente na região, assim como a queimada - que com freqüência acaba se espalhando.

Dentro do plano é prevista a educação ambiental dos moradores da região. Mas, sem reuniões do conselho, não há avanços na elaboração do plano.

A diretora da Fumdham, a arqueóloga Niéde Guidon, diz que os recursos para a criação do parque - R$ 300 mil do Ministério do Meio Ambiente - ainda não foram liberados por conta do atraso nos trabalhos.

Uma parceria que a Fumdham tinha com o Ibama, garantia de um aporte de R$ 433 mil para o parque, não foi renovado no fim de 2005 por causa do novo projeto. O repasse depende agora do corredor - enquanto ele não sai do plano das intenções, o dinheiro também não. "Houve muita agitação, reuniões, falas, mas nada foi feito. Os recursos prometidos não foram liberados", diz Niéde.

O Parque Nacional da Serra da Capivara guarda 900 sítios arqueológicos de 3,5 mil a 12 mil anos, com desenhos nas paredes, chamados de pintura rupestre, feitos por habitantes pré-históricos. São figuras geométricas de homens e animais espalhadas pelo parque e no entorno, além de ferramentas de pedra e peças de cerâmica.

Também há alguns sítios arqueológicos no Parque Nacional da Serra das Confusões, mas ainda não foram estudados adequadamente pelos cientistas.