Título: Congresso cria CPI para investigar sanguessuga
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Nacional, p. A10

Renan dá até terça-feira para que os partidos indiquem integrantes

A menos de um mês do início oficial das campanhas eleitorais, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), leu ontem o pedido de criação da CPI dos Sanguessugas, que investigará fraudes na compra de ambulâncias por prefeituras com recursos de emendas de parlamentares ao Orçamento da União. O requerimento, assinado por 175 deputados e 32 senadores, prevê que a CPI terá 180 dias de funcionamento e 34 integrantes - 17 senadores e 17 deputados.

A oposição no Senado tentará indicar o relator - quer o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos maiores defensores da comissão. "Se não houver inconveniente regimental, eu aceito ser o relator", disse ele ontem.

Renan deu até terça-feira para os partidos indicarem integrantes da CPI. Oposicionistas e aliados estão dispostos a fazer acordo para reduzir o prazo para 30 dias, prorrogáveis por mais 30, e o número de integrantes para 11 senadores e 11 deputados.

"As CPIs, às vezes, demoram mais que o necessário; 30 dias são suficientes se todos se comprometerem com os trabalhos", avaliou o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM). "A CPI não deve servir de espaço para luta política porque ninguém terá vantagem eleitoral transformando-a em vitrine ou palanque", observou Raul Jungmann (PPS-PE), um dos autores do requerimento.

A presidência da CPI ficará com a Câmara. Um dos cotados é Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ). A relatoria caberá ao maior partido do Senado. O bloco PSDB/PFL tem 32 senadores. Sozinho, o PMDB é o maior, com 21. "Se ficar entendido que a relatoria fica com o bloco, vejo com bons olhos nós cedermos a vaga de relator para um deputado e indicar o Gabeira", disse Virgílio. Outro nome sugerido pela oposição é o de Jefferson Peres (PDT-AM).

Renan afirmou que a CPI tem o dever de trabalhar para que o Congresso não fique desmoralizado. "Quero que a CPI tenha quórum. Caso contrário, será uma exposição desnecessária do Congresso", avaliou ele, que relutava em abrir a investigação às vésperas das eleições.

"Reconhecemos que é um ano eleitoral atípico. Mas, se for provado que tem senador e deputado envolvido, a CPI vai virar a sucursal do inferno. E o comportamento espetaculoso de alguns pode atrapalhar a investigação dos ladrões de ambulância, dos ladrões dos cofres públicos", afirmou a senadora Heloísa Helena (AL), candidata do PSOL à Presidência.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) está confiante no bom funcionamento da CPI, mesmo no período eleitoral. "A melhor campanha que um deputado pode fazer é exercer bem o mandato, que só acaba em janeiro", disse.

"Dificilmente essa CPI vai dar certo, porque terá dificuldades de reunir seus integrantes às vésperas das eleições", reclamou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "Além disso, o prazo de 30 dias é pequeno e não dá nem para receber as quebras de sigilo que serão pedidas", reclamou.