Título: Calderón sai com ligeira vantagem
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2006, Internacional, p. A8

Depois de uma campanha tão acirrada como suja, que polarizou o país, expondo a profunda divisão de classes sociais entre os mexicanos, milhões de eleitores foram às urnas instaladas em mais de 130 mil seções eleitorais em 32 Estados, para escolher o próximo presidente. Quatro pesquisas iniciais de boca-de-urna davam à tarde uma ligeira vantagem ao candidato conservador Felipe Calderón Hinojosa, de 43 anos, do Partido de Ação Nacional (PAN), no governo. Pela pesquisa da TV Azteca, Calderón tinha 32% na projeção de votos, para 30% do esquerdista Andrés Manoel López Obrador, de 52 anos, do Partido Revolucionário Democrático (PRD), e 25% para Roberto Madrazo, do Partido Revolucionário Institucional (PRI),que ficou sete décadas no governo até ser derrotado pelo atual presidente ,Vicente Fox, do PAN. Pela pesquisa do Instituto Gaos, Calderón tinha 32%, Lópes Obrador, 30% e Madrazo, 25%. A pesquisa Panmex dava 32% a Calderón, 31% a López Obrador e 23% a Madrazo. Uma pesquisa interna do PRI punha Calderón com 34%, López Obrador com 31% e Madrazo com 29%. Uma quinta pesquisa, do Instituto Mitofsky, informava que Calderón e López Obarador vinham se alternando na frente com uma diferença em torno de 0,5%. Em todas essas pesquisas iniciais a diferença entre Calderón e López Obrador situava-se dentro do empate técnico. Fontes ligadas a López Obrador diziam que em caso de vitória de Calderón por uma margem tão estreita o candidato esquerdista constestaria os resultados. Outras fontes, tidas como bem informadas, disseram que 17 governadores do PRI (são 32 Estados mexicanos) receberam orientação do partido para orientar os eleitores do PRI a canalizar os votos em Calderón O bom tempo na maior parte do México e o grande número de eleitores que fizeram fila desde a abertura da votação, às 8 horas, reforçou previsões de um comparecimento recorde na decisão entre López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, e Calderón, ex-ministro da Energia do atual governo. O Instituto Federal Eleitoral faria o primeiro anúncio sobre a tendência às 23 horas locais, com base nos votos apurados em mais de 7.600 seções eleitorais. A apuração estará concluída antes do meio-dia de hoje. López Obrador foi o primeiro eleitor a votar na seção eleitoral número 23, na Colônia Roma, onde vive, na Cidade do México. O candidato, que é viúvo, compareceu acompanhado por dois de seus filhos e teve de esperar quase uma hora a abertura da seção eleitoral, por causa do atraso de dois mesários. Calderón votou no final da manhã num elegante bairro no sul da Cidade do México, onde vive, acompanhado pela mulher e os três filhos. As últimas pesquisas divulgadas mostravam um empate técnico entre os dois candidatos, seguidos de perto por Roberto Madrazo, do Partido Revolucionário Institucional (PRI).

Havia mais de 71 milhões de eleitores registrados, 13 milhões dos quais jovens de 18 a 24 anos habilitados a votar pela primeira vez.

A taxa de abstenção era considerada um dado-chave para a definição do pleito. Segundo fontes oficiais, um comparecimento acima de 65% favoreceria López Obrador, enquanto um mais próximo à faixa dos 60% beneficiaria Calderón. Uma forte taxa de abstenção poderia levar a um resultado surpreendente: a vitória do candidato do PRI, que tem a maior máquina eleitoral.

O vencedor terá mandato de seis anos e sucederá a Fox no dia 10 de dezembro. Embora os discursos dos dois principais candidatos e os insultos pessoais trocados entre eles durante a campanha tenham polarizado e reduzido o debate eleitoral a uma falsa confrontação entre ricos e pobres, , López Obrador e Calderón disputaram sobretudo os decisivos votos da crescente classe média urbana do México.