Título: Obras inacabadas e projetos viram palanque para presidente
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2006, Nacional, p. A4

Sem admitir que é candidato, Lula percorre o País e inaugura empreendimentos que nem saíram do papel

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tentado burlar a legislação eleitoral - que impede os candidatos no cargo de tirar proveito da máquina governamental - com um artifício pouco sutil: ele tem antecipado o lançamento de obras e projetos para promover eventos públicos vetados para governantes que são oficialmente candidatos à reeleição. A estratégia tem um efeito colateral. O presidente tem viajado pelo País inaugurando "obras" que estão longe de sair do papel.

Em janeiro, num único dia, visitou três trechos da duplicação da rodovia BR-101 no Nordeste. Era apenas o início dos trabalhos, o que não impediu o presidente de usar tom eleitoral nos discursos. "Governador é para estar aqui mesmo, prefeito é para estar aqui mesmo, deputado é para estar aqui mesmo, candidatos é para estarem aqui mesmo", disse em Goiana (PE), saudando aliados e pedindo a presença de todos nas inaugurações que ainda viesse a realizar até o fim do ano.

Em março, na Bahia, o presidente "inaugurou" a pedra fundamental de uma nova universidade federal e aproveitou a cerimônia para elogiar sua política educacional. Por sinal, entre fevereiro e março Lula fez quatro lançamentos de pedras fundamentais, três anúncios de obras de expansão e duas visitas a obras em andamento em universidades. "Quantas universidades foram criadas no Brasil nos últimos 30, 40 anos?", questionou, em Cruz das Almas (BA). Ali mesmo, no entanto, não havia ainda uma universidade - só o projeto da Universidade do Recôncavo Baiano, justificando sua presença no local.

No Piauí, inaugurou uma placa alusiva à expansão do campus da universidade federal. Em discurso, afirmou que os adversários estão incomodados porque o governo está fazendo as coisas certas. Louvou os projetos federais e disse que os programas de transferência de renda atendem não só Estados pobres como o Piauí, mas também São Paulo.

Em maio, no Tocantins, em mais um movimento de campanha não declarada, Lula fez um discurso duro contra os tucanos, rivais na eleição de outubro. Sem citar nenhum nome do PSDB, Lula disse que há no Brasil políticos que não gostam de pobres, fazem política no conforto do ar-condicionado e torcem para tudo dar errado.

No início de junho, o presidente esteve em Coari (AM) para promover mais um lançamento - dessa vez, do gasoduto Urucu-Manaus. Desafiou, ainda mais agressivo, a oposição a mostrar no horário eleitoral imagens das CPIs que teriam "torturado" os principais líderes do PT.

No dia 6 deste mês, novo lançamento: a Ferrovia Transnordestina, a ser construída. E, de novo, mais discursos.