Título: Ex-líder, Varig tem hoje só 16% do mercado
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Economia & Negócios, p. B6

Longa crise fez com que TAM e Gol a ultrapassassem

Sobrou muito pouco dos tempos de pujança da Varig. A "estrela brasileira" reinou absoluta nas décadas de 1970 - quando ficou famosa pelo luxuoso serviço de bordo e comprou concorrentes como a Cruzeiro do Sul - e de 1980, quando chegou à marca de 9 milhões de passageiros transportados por ano.

No início da década de 1990, a companhia passou a figurar entre as 20 maiores companhias aéreas do mundo, com 40 mil funcionários, 87 aviões e 44 destinos no exterior. Chegou a ter 50% participação de mercado. Neste mesmo ano, a empresa investiu R$ 5 bilhões na compra de 22 aviões para o mercado internacional, onde operava com hegemonia.

No entanto, não demorou muito para que a empresa começasse a sentir os efeitos da crise que se acentuaria ainda mais com o passar dos anos. Ainda em 1990, todas as companhias áreas brasileiras em operação ganharam o direito de voar para o exterior. Ao mesmo tempo, as quatro maiores empresas americanas passaram a operar no Brasil, e abocanharam uma boa parte da fatia de mercado da Varig.

Segundo especialistas em aviação, grande parte da dívida da empresa começou nesse período, Já em 1991, a empresa teve um prejuízo líquido de US$ 137,5 milhões e começou a vender aviões Elektra que faziam a ponte aérea Rio-São Paulo. Em 1999, suspendeu vôos regulares para destinos internacionais, como Washington, Atlanta e Zurique. Em 2000, a Varig chegou a apresentar um plano de reestruturação ao BNDES, onde requeria um aporte de US$ 400 milhões,que no entanto não foi levado adiante.

CONCORRÊNCIA Os problemas da Varig criaram o ambiente ideal para a ascensão de duas das suas maiores concorrentes no mercado doméstico, a TAM e a Gol. Esta, lançada no início de 2001 dentro do conceito "low cost low fare" (baixo custo, baixa tarifa), até então inédito no Brasil, não demorou a tirar clientela da Varig. Até que em abril do ano passado, a Gol ultrapassou a Varig em participação de mercado no mercado doméstico: a novata fechou o período com 27,81% de fatia de mercado, ante 27,61% da concorrente.

A TAM, hoje líder de mercado, chegou a fechar um acordo de compartilhamento de vôos com a Varig em 2003, que trouxe bons resultados financeiro. O meio encontrado pelas duas empresas de diminuir a ociosidade dos vôos prenunciava uma possível fusão, que acabou não acontecendo. O compartilhamento dos vôos durou até 2005.

Combalida pela crise, atualmente a Varig perde cada vez mais espaço. A participação de mercado hoje é de 16, 51%, e a dívida acumulada chega a R$ 7,5 bilhões. Tem uma frota de 60 aeronaves, mas apenas 47 estão em operação. Os 11,9 mil funcionários estão com salários atrasados há dois meses.