Título: Querosene só dá para mais um dia
Autor: Alberto Komatsu, Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Economia & Negócios, p. B5

Empresa tenta negociar hoje extensão de prazo para crédito

A Varig só tem combustível garantido para os seus aviões até hoje, relata uma fonte da BR Distribuidora. Segundo ela, um executivo da subsidiária da Petrobrás está em São Paulo para negociar com a Visanet a extensão das receitas futuras geradas com a venda de passagens (recebíveis). Esses recursos foram negociados pela Varig antes do leilão como garantia para o fornecimento de combustível.

Segundo fontes do mercado, a Varig já está esgotando todos os seus recebíveis, o que seria sua última fonte de recursos para manter o crédito.

A Varig deve em torno de R$ 25milhões à BR Distribuidora só pelo fornecimento de combustível que deveria ter sido pago nos últimos dias. Devido a uma liminar obtida na Justiça do Rio, a empresa ficou desobrigou de pagar à vista pelo fornecimento de combustível.

A Varig deve ainda R$ 57 milhões que foram repactuados antes do início de sua recuperação judicial, em junho do ano passado, mas a BR Distribuidora já provisionou como perda contábil essa quantia.

Entre demais credores públicos, a proposta da TGV foi recebida com descrédito. Isso porque o valor oferecido é quase a metade do valor mínimo que foi determinado e porque há risco de a Justiça do Rio decretar a falência da Varig, deixando credores públicos e privados sem receber o que têm direito.

Entre os donos de crédito privados e estrangeiros, o clima é o de "a paciência acabou". Segundo um representante de um credor internacional, não há mais confiança na isenção da Justiça brasileira, o que poderá resultar numa onda de pedidos de arresto de aviões pelo mundo afora. "Os credores estão cansados", diz uma fonte.

Na prática, isso significa que as empresas que alugam aviões ou turbinas para a Varig poderão entrar com pedidos na Justiça em qualquer País. Eles vão tentar tomar aviões assim que pousem em aeroportos estrangeiros.

Os credores internacionais ressaltam que na terça-feira haverá audiência na Justiça de Nova York que definirá se a Varig continuará a ter proteção contra arresto de aviões.

Até aqui, a Justiça americana preferiu não se adiantar às decisões brasileiras e adiou as questões mais polêmicas. Agora, dizem os credores, a situação mudou.

Além disso, a Varig terá de receber US$ 75 milhões da TGV até essa reunião como prova de que o processo de recuperação caminha.

O advogado de arrendadores de aviões e fornecedores internacionais da Varig, Felipe Câmara, da Tozzini, Freire Advogados, avalia que o mais importante é o pagamento dos US$ 75 milhões para a Varig regularizar seu caixa.

"Quem tem financiado a recuperação da Varig são os arrendadores e a Infraero. Não queremos que isso se perpetue", disse.