Título: OceanAir critica tempo para análise
Autor: Alberto Komatsu, Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Economia & Negócios, p. B4

Cotada como a principal interessada na compra da Varig, a OceanAir, do empresário German Efromovich, chegou a se pré-qualificar para a apresentação de propostas, mas não entregou nenhum envelope. Ao final do leilão, o presidente da empresa alegava que o tempo de consulta aos dados da Varig fora insuficiente.

TAM, Gol e o escritório Ulhôa Canto, Rezende e Guerra também estavam habilitadas, mas nenhum deles participou. A companhia estatal portuguesa TAP, que há uma semana manifestara interesse em adquirir os dois segmentos oferecidos (nacional e internacional), sequer compareceu ao leilão.

As duas decisões judiciais garantindo que não haverá transferência ao comprador do enorme passivo trabalhista e fiscal da empresa parecem não ter sido suficientes para convencer os possíveis investidores.

"Desde o começo não apresentaríamos proposta. Por dois motivos: o risco de sucessão de dívidas fiscais e trabalhistas e o preço mínimo, que a gente considerou muito alto", afirmou o representante de um potencial comprador, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, resta agora saber como o TGV vai pagar US$ 75 milhões em três dias, conforme prevê o edital do leilão.

Carlos Ebner, presidente da OceanAir, amparou-se na exigüidade de tempo para explicar a ausência de uma participação que era tida como certa. "Faltou tempo para que a gente pudesse fazer uma análise melhor da situação. O tempo do data room foi muito curto, o que dificultou bastante para fazer uma engenharia financeira e convencer os investidores", afirmou.

De acordo com o executivo, se houvesse mais tempo, a OceanAir poderia reformular sua proposta e reapresentá-la. "Sempre reiterei o grande interesse da OceanAir na Varig", disse Ebner, que não quis revelar qual seria o valor da oferta que seria apresentada ontem.

Segundo o presidente da Associação dos Mecânicos de Vôo da Varig (Amvar), Oscar Bürgel, integrante do único grupo que fez oferta, o Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), o plano da OceanAir era pagar US$ 150 milhões pela companhia.

ESTRATÉGIA Marcelo Gomes, da consultoria Alvarez & Marsal, responsável pelo processo de reestruturação da empresa, viu na falta de lances uma estratégia da concorrência. "Para a TAM e Gol, é melhor a falência do que comprar a Varig, pois elas ganham as rotas sem pagar nada por elas", avaliou.

Como as rotas aéreas são concessão federal, quando uma empresa deixa de operar, o órgão regular redistribui no mercado as ligações aéreas da massa falida.

Questionado se poderia ter havido uma combinação das rivais durante o leilão, Gomes disse que "talvez tenha sido alguma coisa com relação a isso".

Em nota distribuída à tarde, a TAM informou que, "após detalhada avaliação a respeito do investimento e do risco-retorno do negócio da Varig", optou por não oferecer lance no leilão. A Gol não se pronunciou.