Título: Copom otimista, mas vigilante
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Economia & Negócios, p. B2

A Ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), dos dias 30 e 31 de maio, era esperada com certa curiosidade em meio à decisão de diversos países, notadamente do Banco Central Europeu, de aumentarem suas taxas de juros de referência, tendo em vista, ainda mais, a crise que grassa no mercado financeiro internacional.

Parece que as autoridades monetárias brasileiras levaram em conta os descuidos que o presidente do Fed (banco central norte-americano) cometeu nas suas últimas declarações e procuraram dar tranqüilidade ao mercado. Pela maioria das reações do mercado, que aposta numa nova redução da taxa Selic nos dias 18 e 19 de junho, entre 0,25 e 0,50 ponto porcentual, parece que o Copom atingiu seu objetivo.

Depois de analisar a evolução da conjuntura nacional com uma visão otimista (até no que diz respeito às contas fiscais), o Copom, ao se referir à grande volatilidade do cenário internacional, conclui que ela ¿não configura um quadro de crise¿. A única preocupação das autoridades monetárias é com o preço do petróleo, que poderá se traduzir em alta dos preços dos combustíveis e dar origem a um repique da inflação - que até agora está abaixo da meta central fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Paralelamente, o Copom insiste sobre a solidez dos fundamentos econômicos, que colocam o Brasil numa posição muito melhor que a da Turquia, por exemplo.

A leitura da ata do Copom, todavia, não permite concluir que nos próximos meses as autoridades monetárias, neste clima conturbado do mercado internacional, continuarão reduzindo a taxa de juro básica. Dois trechos da ata representam um alerta.

É mais uma vez lembrado, no documento, que o Banco Central não está dando atenção apenas à inflação de curto prazo, mas muito mais às perspectivas de maior prazo, que poderão se modificar com a continuidade das perturbações do mercado financeiro internacional. Atualmente, a situação internacional aumentou o grau de incerteza.

Como na ata anterior, e com mais insistência, o Copom insiste no fato de que existe uma grande defasagem entre as decisões das autoridades monetárias e as taxas de juros que deverão prevalecer no médio prazo. Cabe ao Copom levar em conta essa defasagem e até surpreender o mercado com suas decisões. A ata lembra ainda que será de grande vigilância a estratégia do Comitê.