Título: Empregados fazem a única proposta em leilão da Varig
Autor: Mariana Barbosa, Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Economia & Negócios, p. B1

Oferta de US$ 449 milhões é quase metade do mínimo; juiz decide hoje se aceita e governo descarta plano B

A NV Participações, empresa formada pelo Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), fez ontem a única oferta pela Varig Operações, durante leilão judicial. A proposta de US$ 449 milhões, quase metade do preço mínimo exigido, e com recursos de origem incerta, vai depender da aprovação do juiz Luiz Roberto Ayoub, responsável pelo caso Varig, que pediu 24 horas para decidir. O prazo termina hoje, no final do dia. A rejeição da proposta pode levar à falência da companhia.

O resultado do leilão foi recebido com desconfiança em Brasília, principalmente pela falta de informações sobre a origem do dinheiro. Nos bastidores da Esplanada dos Ministérios, o comentário era de que a tendência é a empresa ir à falência, mais cedo ou mais tarde. A reação mostra que o governo não pretende fazer mais nada em relação à Varig.

Diante da má repercussão da proposta, as ações da companhia caíram 58%, encerrando o dia cotadas a R$ 1,51. As ações das concorrentes Gol e TAM subiram 4,92% e 7%, respectivamente. O juiz Ayoub descartou a possibilidade de um novo leilão. Mas deixou no ar qual seria sua atitude caso a proposta seja rejeitada - se decretaria ou não a falência, como previsto na lei.

"O que diz a lei é uma coisa. A interpretação da lei é outra coisa e eu tenho que analisar o caso concreto", disse Ayoub. "Pela lei, seria a falência. Mas não posso dizer o que farei. Tudo depende do que eu interpretar. Se for viável para a manutenção da empresa, eu acatarei."

A proposta da TGV, que conta com a assessoria do consultor Paulo Rabello de Castro, é de R$ 1,010 bilhão (US$ 449 milhões), mas apenas R$ 285 milhões seriam em dinheiro vivo. E, mesmo assim, não ficou claro de onde sairia esse investimento, pois a NV Participações não dispõe do valor. Outros R$ 500 milhões seriam arrecadados com a emissão de debêntures lastreadas na expectativa de lucros da companhia.

Por fim, a proposta prevê mais R$ 225 milhões, que viriam de créditos que os trabalhadores têm a receber da empresa. O diretor da TGV, Oscar Bürgel, garante que os R$ 285 milhões já estariam no Brasil e viriam de três investidores estrangeiros, cujo nome ele não revela. "Cartas de garantias dos três investidores foram anexadas à proposta", afirmou.

Para a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, a conversão dos créditos dos trabalhadores depende da autorização de cada um. "Esperamos que o juiz Ayoub exija todas as garantias necessárias", disse Graziella, que é inimiga política do TGV. O presidente da Varig, Marcelo Bottini, disse ter ficado "contente" de ter aparecido alguma proposta. "Não posso partir da premissa absurda de que a proposta não é séria."