Título: TV faz Alckmin se aproximar de Lula
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Nacional, p. A5

Depois de amargar uma diferença abissal em favor de seu oponente petista, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB-PFL) pôde exibir um crescimento que os analistas rotularam como expressivo nos levantamentos de opinião: em nova pesquisa Datafolha, Alckmin tirou 6 pontos porcentuais de diferença em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que, no entanto, continua vencendo a eleição no primeiro turno. Lula teria hoje 46% (45% em maio) dos votos contra 29% (22% há um mês).

No segundo turno, a diferença entre os dois ficou reduzida a 11 pontos porcentuais, o que significa dizer que, se Alckmin tirar 6 pontos porcentuais de Lula, passa à frente; em maio, a diferença entre os dois era de 17 pontos. Alckmin herda 57% dos votos atribuídos no primeiro turno à senadora Heloísa Helena (Psol-AL); Lula recebe apenas 25% deles. Aparentemente, Alckmin herdou a preferências antes atribuídas a Roberto Freire (PPS-PE) e Enéas Carneiro (Prona-SP). O Datafolha ouviu 2.828 eleitores em 177 cidades, com margem de erro de 2 pontos porcentuais.

Em pesquisa Vox Populi, Lula caiu de 49% para 45% e Alckmin subiu de 23% para 32% - ainda com vitória do petista no primeiro turno. Segundo Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, na simulação de segundo turno Alckmin superou Lula em todas as regiões, exceto o Nordeste, onde o presidente continua em vantagem. A ascensão do tucano também tem sido confirmada por monitoramentos diários feitos pelo Ibope.

As pesquisas dos dois institutos mostram que o comportamento dos eleitores está, cada vez mais, partindo o País ao meio. No Datafolha, Lula perde na Região Sul (37% a 30%), vence por pequena margem no Sudeste (39% a 34%), vence por margem maior no conjunto do Norte/Centro-Oeste (47% a 28%) e dispara no Nordeste, seu maior reduto (64% a 17%). Por renda, Lula vence disparado na faixa até 2 salários mínimos (51% a 23%) e ganha por margem menor entre 2 e 5 salários (44% a 32%); mas perde entre 5 e 10 salários (40% a 37% para Alckmin) e acima de 10 salários mínimos (40% a 34%).

Em 2002, atesta Mauro Paulino, diretor do Datafolha, a votação de Lula era mais homogênea. Para ele, a evolução eleitoral de um candidato com perfil de voto tão heterogênea é um enigma. Para complicar, a rejeição do petista se tornou a maior: 31% dos eleitores dizem que não votariam nele de forma alguma. Alckmin tem uma rejeição de 19%, mas parte desse porcentual ainda deve ser atribuído a um nível parcial de desconhecimento. Por fim, na intenção de voto espontânea, Lula cresceu 4 pontos porcentuais (de 31% para 35%) e Alckmin cresceu 6 (de 9% para 15%).

PAPEL DA PROPAGANDA

Desde janeiro, Lula recuperou sua imagem, deteriorada pelos escândalos de corrupção que flagelaram o governo no ano passado, com ajuda de campanhas de propaganda. Agora, Alckmin responde na mesma moeda - exposição - e aumenta a intenção de voto depois de um mês inteiro com programas partidários e muitas inserções comerciais do PSDB na televisão. Agora, os dois candidatos vão passar 45 dias "no sereno", isto é, sem nenhuma propaganda governamental ou partidária, até que os programas de propaganda eleitoral de televisão e rádio comecem, em 15 de agosto.

Márcia Cavallari, diretora do Ibope, acha difícil antecipar quem vai perder mais. Coimbra acha que Alckmin perderá mais nesse período porque, a despeito do avanço conseguido em junho, ainda tem de vencer uma alta taxa de desconhecimento do eleitorado. Paulino diz que o fator mais interessante mostrado nas últimas pesquisas é que o eleitor brasileiroestá cada vez mais ligado nas eleições. E esse interesse, ressalta o especialista, deve se multiplicar após o final da Copa do Mundo, no dia 9 de julho.