Título: Haniye exige cessar-fogo de Israel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Internacional, p. A13

Em seu primeiro comentário em público sobre a captura de um soldado israelense no domingo, o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniye, acusou ontem Israel de ter lançado operações militares na Faixa de Gaza como parte de um esforço para remover o Hamas do governo. Haniye, considerado um moderado no Hamas, exigiu que Israel pare de atacar Gaza se quiser obter a libertação do cabo Guilad Shilat. "Antes da captura do soldado, os militares israelenses já tinham em suas mesas os planos para minar o governo e humilhar o povo palestino. Agora estão seguindo esses planos", disse Haniye em Gaza.

Na quinta-feira, o diário israelense Haaretz informou que as prisões dos ministros e deputados já tinham sido planejadas semanas atrás e tiveram a aprovação do procurador-geral.

Israel exige a libertação incondicional de Shalit. O comando que o mantém em cativeiro pedia inicialmente a libertação de 95 mulheres e 313 palestinos menores de 18 anos detidos em Israel. Ontem, fez nova exigência: que sejam soltos mil presos, que poderiam incluir árabes e muçulmanos não-palestinos.

Desde segunda-feira, a aviação israelense bombardeou vários alvos do Hamas e da infra-estrutura civil, como duas pontes e a principal usina de energia elétrica da Faixa de Gaza. Quase dois terços do território estão sem luz. Além disso, as tropas israelenses capturaram na Cisjordânia o vice-primeiro-ministro, 8 ministros e 20 parlamentares do Hamas, assim como vários militantes do grupo.

Ontem Israel desfechou mais de 20 ataques aéreos, na maioria contra locais usados para reunião de militantes e disparo de foguetes contra o território israelense. Dois palestinos foram mortos (em Gaza e na Cisjordânia). O país também revogou o direito de residência em Jerusalém Oriental de quatro parlamentares do Hamas.

Segundo a TV de Israel, Shilat está vivo, teria sido levado para Rafah ou imediações, no sul da Faixa de Gaza, e recebido tratamento médico para ferimentos sem gravidade no abdome e num braço. Haniye disse que seu governo está em contato com o Egito e outros países em busca de uma solução para a devolução de Shilat a Israel.

Mediadores egípcios estão mantendo, em Gaza, contatos com os três grupos envolvidos na captura: a ala militar do Hamas, os Comitês de Resistência Popular e o Exército Islâmico. Shilat foi ferido e levado de um posto militar em Israel, no domingo, após um comando palestino invadir o país por um túnel na fronteira da Faixa de Gaza. Dirigentes do governo palestino negam estar participando diretamente nas mediações. Há rumores de que uma negociação está em andamento. Segundo o diário libanês As-Safir, com boas fontes no Hamas, as duas partes estão finalizando um acordo pelo qual Israel soltaria grande número de palestinos.

Na madrugada local de hoje, o grupo militante Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa enviou um comunicado à France Presse dizendo ter capturado outro soldado israelense, a quem identificou como "Hoffman Kfeir Samuel". O Exército israelense, porém, informou não ter nenhum militar com esse nome.

Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU fez ontem à noite uma reunião de emergência para discutir a ação israelense, a pedido de países árabes. Os palestinos pediram que a ONU pressione Israel a encerrar a ofensiva. Mas os EUA disseram que, antes disso, Síria e Irã precisam "parar de patrocinar o terrorismo".