Título: ONU enviará missão a Timor Leste
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Internacional, p. A15

As Nações Unidas anunciaram ontem a formação de uma comissão internacional que investigará as circunstâncias relacionadas à onda de violência em Timor Leste, que deixou pelo menos 30 mortos e causou uma crise social e institucional nos últimos dois meses.

A comissão, que chegará ao Timor na próxima semana, será formada por três especialistas em direitos humanos, entre eles o brasileiro Sérgio Pinheiro. O grupo investigará principalmente o ocorrido entre 28 e 29 de abril, assim como entre 24 e 25 de maio, estabelecer responsabilidades e apresentar recomendações destinadas a garantir que as violações dos direitos humanos sejam punidas.

Os distúrbios na capital timorense, Díli, começaram no final de abril durante os violentos protestos de soldados que reclamavam de maus-tratos por parte dos militares mais antigos. Sem conseguir conter a violência, o governo timorense pediu ajuda de forças internacionais. Quase um mês depois, ocorreu novo surto de violência, elevando para 30 o número de mortos.

A crise foi provocada pela decisão do primeiro-ministro Mari Alkatiri de demitir os 600 soldados - um terço do Exército - que reclamavam de discriminação étnica.

Os soldados demitidos eram loromanos (originários do oeste de Timor Leste e que defenderam a anexação do território à Indonésia) e os militares mais antigos em sua maioria lorosaes (originários do leste e que lutaram pela independência). Lembrando do massacre após o referendo de 1997 que levou à independência de Timor Leste, mais de 100 mil pessoas deixaram suas casas.

Sob pressão, Alkatiri renunciou na segunda-feira, mas a capital voltou a ser cenário de graves confrontos e vandalismo esta semana. Alkatiri está sendo investigado em meio à acusação de que teria contratado um esquadrão da morte para eliminar seus opositores e os soldados rebelados.

As acusações ganharam credibilidade na semana passada quando o ex-ministro do Interior Rogerio Lobato, aliado de Alkatiri, foi indiciado.

O chanceler José Ramos-Horta disse ontem que Timor Leste deverá ter um novo governo nos próximos dias. Ramos-Horta, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1996 por sua resistência pacífica à ocupação indonésia, informou que até que o novo primeiro-ministro assuma o poder ele controlará os assuntos de Estado. O chanceler é uma das pessoas cujo nome está sendo cotado para assumir a chefia do governo. Importante aliado do presidente Xanana Gusmão, Ramos-Horta também acumulou os ministérios do Interior e da Defesa após a onda de violência.

MISSÃO DO BRASIL Ainda ontem, chegou a Díli uma missão diplomática do Brasil com o objetivo de reiterar às autoridades timorenses a solidariedade brasileira diante da crise política e social que atingiu o país. A missão, chefiada pelo subsecretário de Política do Itamaraty, embaixador Pedro Motta Pinto Coelho, também vai reiterar a disposição do Brasil de manter no Timor o programa de cooperação nas áreas educativa, judiciária e militar.