Título: Bush comemora com moderação
Autor: Paulo Sotero, WASHINGTON
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Internacional, p. A15

Em contraste com sua reação após prisão de Saddam, presidente lembra que tropas terão 'dias difíceis' pela frente

Primeiro sucesso militar dos EUA no Iraque em vários meses, a morte ontem do líder terrorista jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, e de sete de seus comandados, foi comemorada com comedimento pelo presidente George W. Bush. O presidente, que recebeu a notícia do ataque na tarde da quarta-feira, mas só teve confirmação sobre o êxito da operação à noite, disse que a eliminação do chefe da Al Qaeda no Iraque oferece "uma oportunidade para o governo iraquiano virar o jogo nessa luta".

Ele afirmou também que a ação foi "um golpe severo para a Al Qaeda". Mas Bush evitou o tom triunfante de declarações que fez no início da guerra ou mesmo depois da captura de Saddam Hussein, no final de 2003. "Zarqawi está morto, mas a missão difícil e necessária no Iraque continua", afirmou ele, com ar grave. "Temos dias difíceis pela frente no Iraque, que requererão mais paciência do povo americano".

O secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, também foi cauteloso ao falar do impacto da morte do terrorista na guerra civil que a invasão anglo-americana desencadeou no Iraque. "Dada a natureza da rede terrorista, que é na realidade uma rede de redes, a morte de Zarqawi, ainda que seja enormemente importante, não significará o fim da violência naquele país", disse Rumsfeld em Bruxelas.

Embora o sucesso da operação contra o mais procurado chefe da Al Qaeda depois de Osama bin Laden indique que há um forte grau de penetração na organização terrorista que ele comandava, o efeito positivo imediato que ela produziu, do ponto de vista simbólico e militar, pode ser ofuscado por vários outros fatores. Um deles foi evidenciado pela necessidade que a Casa Branca sentiu, ontem, de esclarecer declaração de Bush, segundo a qual, à luz da morte de Zarqawi, ele discutirá na semana que vem com os novos líderes iraquianos "como melhor utilizar os recursos da América no Iraque".

Seu porta-voz, Tony Snow, apressou-se a explicar que Bush não estava sugerindo uma redução antecipada das tropas. Foi esta, no entanto, a primeira conclusão da oposição democrata, que, ciente da impopularidade da guerra, têm pregado a volta dos soldados.

Especialistas em estratégia militar e fontes do Pentágono admitiram que a reação imediata mais provável das forças rebeldes deverá ser uma intensificação das ações terroristas, para provar que a insurgência não depende de um único homem. Charles Pena, um analista do Instituto de Política de Segurança Interna, da Universidade de George Washington, sugeriu que, politicamente, a morte de Zarqawi deixa a administração sem o argumento que vinha usando para justificar a desastrosa decisão que tomou em março de 2003 de tirar o foco da guerra contra o terrorismo do Afeganistão e transferi-lo para o Iraque.

"Foi assim que se evitou o embaraço de não ter capturado ou morto até agora o homem responsável pelo 11 de setembro", disse Pena, referindo-se a Bin Laden.

Uma pesquisa do Instituto Zogby mostrou, no entanto, que, a esta altura, mesmo a captura ou morte de Bin Laden teria pouco impacto para a popularidade de Bush, que anda abaixo de 35%. "O problema para o presidente é que o país está completamente dividido sobre a guerra", disse o diretor do instituto, John Zogby.