Título: Governistas confiam em derrubar o relatório
Autor: LUCIANA NUNES LEAL e ROSA COSTA
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Nacional, p. A11

Parecer alternativo deve retirar o que não tenha ligação com bingos e livrar mais 24 acusados

Depois da leitura do relatório da CPI dos Bingos, o senador Agripino Maia (PFL-RN) pediu a palavra e comentou, em tom irônico, o "congraçamento do PT". De fato, os governistas da comissão cumpriram a tarefa de protestar contra o texto final, mas estavam tranqüilos. Estão certos de que terão votos para derrubar o relatório de Garibaldi Alves (PMDB-RN). No lugar, pretendem aprovar voto em separado do senador Magno Malta (PL-ES), que vai retirar tudo o que não tenha ligação direta com bingos e jogos. Isso significa cancelar o pedido de indiciamento de 24 pessoas.

O parlamentar excluirá a parte sobre desvios de dinheiro de prefeituras petistas para abastecer campanhas do partido, o caso da morte do prefeito de Santo André Celso Daniel e as explicações do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que diz ter pago do próprio bolso dívidas do presidente Lula e de sua filha Lurian.

Até a oposição reconhece a dificuldade de aprovar o parecer de Garibaldi. Durante toda a CPI, a margem foi apertada para um lado e para outro. Com o apoio do PTB, que antes votava com a oposição, o governo acredita ter garantido a vitória.

Enquanto a situação reclamou da inclusão do ex-ministro Antonio Palocci e de Okamotto entre os pedidos de indiciamento, a oposição protestou contra a retirada dos nomes do ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu (PT-SP) e do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.

Se o documento for mesmo rejeitado, os oposicionistas votarão, embora sem maioria, a favor do voto em separado do tucano Álvaro Dias (PR), que apresenta versão ainda mais rigorosa, pedindo o indiciamento de Dirceu e Carvalho. Dias quer ainda que o presidente seja investigado pelo Ministério Público, pois "há elementos de que Lula sabia do esquema em Santo André (desvio de verbas)". Os dois votos em separado vão excluir a proposta de regulamentação dos bingos.

'VERDADE'

O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), exaltou o texto: "Não foi relatório político, foi a verdade." "Vossa Excelência cometeu equívocos graves em relação à honra pessoal de algumas pessoas", falou Tião Viana a Garibaldi, sobre Palocci e Okamotto. "Tenho que acreditar que a decisão do relator de tirar Dirceu e Carvalho foi por convicção. Mas minha convicção é que eles devem ser indiciados", afirmou Dias.

Garibaldi se emocionou ao dizer que não imaginava ouvir críticas dos dois lados. "Quando a CPI começou, pensei se valia a pena trabalho como esse, porque CPI a gente sabe como começa, mas não como termina. Pensei que fosse concluir sem passar por este percalço."