Título: Irmão de prefeito quer nova acareação
Autor: Rosa Costa e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Nacional, p. A10

João Francisco Daniel acusa Gilberto Carvalho de ter sido 'treinado' a falar

João Francisco Daniel, irmão do prefeito Celso Daniel, seqüestrado e morto em janeiro de 2002, desafiou ontem Gilberto Carvalho para novo encontro. Ele disse que está à disposição da CPI dos Bingos, do Ministério Público e da Justiça para "passar por quantas acareações forem necessárias" com o secretário particular do presidente Lula.

João Francisco sugeriu, porém, que eventual reedição do embate com Carvalho ocorra sem que o assessor do presidente tenha tempo de "decorar o que vai dizer ou ser instruído sobre como agir". Ele disse ter sido informado no Congresso, na ocasião da acareação promovida pela CPI dos Bingos, que Carvalho foi "orientado e exaustivamente treinado"por autoridades do Ministério da Justiça.

O irmão de Celso Daniel acusou o assessor de Lula de ter contado a ele, dias depois da execução do prefeito, que parte do dinheiro arrecadado por meio de suposto esquema de corrupção em Santo André era destinada ao financiamento de campanhas eleitorais do PT. Carvalho também teria dito que o dinheiro era levado a José Dirceu, que presidia o partido.

Bruno Daniel, outro irmão de Celso, também depôs e confirmou que ouviu de Carvalho a mesma informação. O assessor de Lula negou à CPI que tivesse feito tal revelação. Por isso, ele e os Daniel foram acareados. "Triste e indignado eu já estou desde que encontraram o cadáver do meu irmão", reagiu João Francisco ao ser avisado sobre a decisão do relator. Ele disse que a exclusão de Carvalho e de Dirceu do rol de indiciados joga fora "excelente oportunidade para aprofundamento das investigações" sobre a propina de Santo André. "É posição política (a decisão do relator), mas o que esperar diante do que está acontecendo em Brasília? O tempo passa e a impunidade vai crescendo. Veja os sanguessugas (ambulâncias superfaturadas). A imagem do Brasil no exterior é de quinto mundo."

João Francisco insistiu no uso de aparelho polígrafo (detector de mentiras) em caso de nova acareação. "A verdade pode demorar, mas vai aparecer e todos os envolvidos vão pagar."

ACUSAÇÃO

Em São Paulo, a Justiça ouviu três testemunhas de acusação do empresário Sérgio Gomes da Silva e dos seis denunciados como executores de Daniel. Segundo o Ministério Público, uma testemunha confirmou ter visto Sérgio - apontado como mandante do crime - com uma arma na mão, fora da Pajero da qual o prefeito foi arrancado pelos seqüestradores na noite de 18 de janeiro de 2002. A testemunha, com identidade sob sigilo, disse que Sérgio "estava interagindo" com os bandidos.