Título: Era o vôo do adeus, mas foi alarme falso
Autor: Alberto Komatsu e Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Economia & Negócios, p. B1

"Hoje, a Varig pára de voar." As palavras da gerente da empresa no Aeroporto de Munique pegaram de surpresa a tripulação do vôo que sairia naquela noite da Alemanha para o Brasil. As comissárias choraram. O piloto engasgou. Telefonaram para o diretor de operações, em São Paulo, e tiveram a confirmação. Todos deveriam voltar ao País porque a Varig acabou - tanto a tripulação que havia chegado no sábado e retornaria naquela segunda-feira, quanto a que chegou em Munique na segunda e regressaria apenas na quarta.

O comandante César Sfoggia, 26 anos de Varig, chegou à Alemanha no sábado. Um dia antes de receber a notícia sobre a falência da companhia, assistiu a Brasil e Austrália no Olimpia Park. Sem salário há dois meses, não quis pagar uma fortuna para ir ao estádio. O primeiro vôo internacional de Sfoggia como comandante foi em 1992, para Los Angeles. O último, pela Varig, seria aquele de Munique. Por isso, ele e outros pilotos aproveitaram para tirar fotos ao lado do avião.

O Boeing 777 , com o nome do fundador da Varig, Otto Ernst Meir, gravado no nariz, saiu da Alemanha às 20h de 19 de junho. Voou com 292 passageiros e 16 tripulantes. Na cabine, quem conseguiu controlar o choro fez planos sobre o futuro emprego, imaginou como seria a vida em terra, depois da última viagem. O comandante Sfoggia, aliás, já está com tudo encaminhado para mudar de país. Os passageiros chegaram em São Paulo sem saber de nada.

Depois de 4 horas de vôo, um telefonema ao Brasil fez a história mudar. A rota para Munique havia sido suspensa, mas, ao contrário do que informou a gerente, a Varig continua.