Título: Setor teme mudanças nos critérios para desapropriação
Autor: Venilson Ferreira, Tomas Okuda, Jane Miklasevicius
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Economia & Negócios, p. B4

Possíveis mudanças nos índices de produtividade rural para fins de reforma agrária, ainda em análise no governo, são o que mais assustam lideranças do setor com a nomeação de Luís Carlos Guedes Pinto para ministro da Agricultura, no lugar de Roberto Rodrigues.

Ontem, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), João Sampaio, chegou advertir para os riscos de se tentar a mudança. Segundo ele, se o assunto for posto em discussão neste momento de crise na agricultura, haverá um acirramento dos ânimos "que pode levar a conseqüências trágicas".

Depois, Sampaio baixou o tom e disse que Guedes Pinto conhece as atuais dificuldades dos produtores rurais e deve dar prosseguimento às medidas anunciadas pelo governo para aliviar a crise.

A proposta de alteração dos índices é do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e está para ser analisada pelo Conselho Nacional de Política Agrícola (CNPA). O objetivo é incorporar novas tecnologias ao conceito de produtividade rural e aumentar a quantidade de propriedades passíveis de desapropriação.

Na mesma linha, o presidente da Associação dos Cafeicultores do Paraná, Luis Suplicy Hafers, disse que o novo ministro deve dar continuidade ao trabalho de Rodrigues. "Eles trabalhavam afinados, apesar da diferença ideológica", observou. Segundo ele, mudanças, de fato, só devem ocorrer no novo governo Lula "ou, por milagre, no de Geraldo Alckmin".

Já o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Macel Félix Caixeta, espera de Guedes Pinto atitudes livres de ideologias e sensibilidade com as causas do setor.

As referências de Caixeta a respeito do novo ministro são da época em que ele esteve na presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2003. O presidente da Faeg lembrou que naquela época Guedes Pinto se mostrava interessado pelos problemas da agropecuária.

O presidente em exercício da Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, se disse indiferente à mudança, mas é o mais crítico. "O problema não é de ministro, é de falta de política agrícola no governo", disse. Segundo Corral, Rodrigues tem muita capacidade, "mas o governo Lula não está preocupado com a agricultura empresarial".

O presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Maurício Miarelli, disse que as expectativas com o novo ministro são as melhores possíveis. E acrescentou que Guedes. "Ele conhece o setor cafeeiro da época em que trabalhava na Secretaria de Agricultura de São Paulo", comentou. "Por isso, os produtores não acreditam em dificuldades no relacionamento com o novo ministro", ponderou.

Para o porta voz da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Lawrence Pih, Gudes Pinto é "um competente e profundo conhecedor do setor".