Título: Acionista da GM propõe aliança com a Renault
Autor: Jui Chakravorty
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2006, Economia & Negócios, p. B12

O bilionário Kirk Kerkorian, dono de 9,9% das ações da americana General Motors, conseguiu fazer com que as ações da montadora subissem ontem 8,56% na Bolsa de Nova York, ao sugerir que a empresa deveria considerar uma aliança com a francesa Renault e a japonesa Nissan. O presidente da Renault, Carlos Ghosn, expressou seu interesse em adquirir uma participação de até 20% na GM durante uma reunião com Kerkorian, há cerca de 10 dias, segundo uma fonte próxima à situação.

A proposta da Tracinda Corp., a empresa de investimentos de Kerkorian, surpreendeu investidores e analistas. Mas a análise é que a proposta abre caminho para uma possível entrada de capital na GM.

Uma eventual sociedade, além disso, promete ganhos de custos em grande escala, já que as três montadoras poderiam combinar seu desenvolvimento de produtos e compartilhar operações. A GM enfrenta uma grave financeira crise por causa de aumentos de custos trabalhistas e fracas vendas de veículos esportivos utilitários. A empresa, ainda a maior montadora do mundo - mas já bastante ameaçada pela japonesa Toyota -, vê seu mercado cair nos EUA e colocou em andamento um profundo programa de reestruturação. A empresa, que teve prejuízo de US$ 10,6 bilhões no ano passado, pretende reduzir em 30 mil o número de empregados e fechar 12 fábricas.

Apesar de todo o impacto nas bolsas, a GM disse não ter recebido nenhuma proposta da Renault, mas disse que iria estudar o pedido de Kerkorian.

COMUNICADO A Renault e a Nissan (na qual a montadora francesa mantém uma participação de 44%) disseram em comunicado que estariam dispostas a analisar uma associação mais profunda, mas indicaram que uma aliança com essas características necessitaria do respaldo total da direção da GM.

Um grande número de analistas continua cético em relação à proposta e tem dúvidas se uma aliança como essa seria possível. Mas, se o acordo vingasse, a nova empresa abriria uma ampla margem na liderança mundial do mercado automotivo. Em 2005, a GM registrou vendas de 8,5 milhões de carros em todo o mundo, enquanto as vendas da Nissan e da Renault foram de, respectivamente, 3,6 milhões e 2,5 milhões de unidades. "Se a direção da GM chegar a um acordo para essa aliança, enxergaríamos isso como um grande potencial de longo prazo, positivo para os acionistas", disse Himanshu Patel, analista do JP Morgan.

Ghosn, apelidado de "assassino de custos", levou a Nissan das dívidas multimilionárias que acumulava em 1999 para a rentabilidade em 2001. Mas o preço das ações da Nissan caiu cerca de 20% desde maio, já que a empresa reduziu suas metas de vendas no Japão e disse que registraria uma queda nos resultados financeiros do primeiro trimestre.

Patel sustenta que a aliança ofereceria à GM oportunidades significativas em compras compartilhadas, desenvolvimento de novos produtos e reduções na capacidade de produção na Europa.

Na proposta enviada ao presidente-executivo da General Motors, Rick Wagoner, Kerkorian pediu à direção da empresa para formar um comitê para "explorar em profundidade e imediatamente" a possibilidade de uma aliança, pela qual a Nissan e a Renault comprariam uma "participação minoritária significativa" na empresa americana.

"Acreditamos que participar em uma aliança global com a Renault e a Nissan poderia permitir à General Motors alcançar sinergias substanciais e grandes economias de custos", disse o investidor. "Isso beneficiaria a empresa e traria mais valor para as ações."

O representante de Kerkorian no conselho da GM, Jerry York, já conseguiu fazer com que a empresa seguisse algumas de suas sugestões para conseguir uma reestruturação mais rápida - como cortes nos salários dos executivos e redução de dividendos.