Título: Parentes de presos fazem protesto em Itirapina
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2006, Metrópole, p. C5

Mulheres, mães e filhos dos presos da Penitenciária 2 de Itirapina fizeram, ontem, uma passeata, pedindo informações da direção e exigindo notícias sobre as condições físicas dos 1.250 sentenciados que ocupam uma única ala do presídio. O diretor plantonista, Paulo Redondo, mandou dizer que não falaria com os parentes. As únicas informações que chegam são as repassadas pelos detentos, de dentro da cadeia, por celular. Às mulheres, eles contam que há feridos e doentes sem atendimento médico.

Os detentos estão amontoados e dormindo no chão, segundo os parentes. Há presos com hepatite, portadores de HIV, pneumonia e feridos que foram atingidos por disparos de bala de borracha. Em outras ligações, uma mãe de detento denuncia maus-tratos.

Em um telefonema gravado pelos jornalistas, um preso afirma que está com receio de envenenamento da água ou mesmo da comida. "Os banheiros estão quebrados, sem água e sem nenhuma condição de uso. Passaram a usar sacos plásticos para os dejetos", diz um detento à mãe, pelo celular. Eles não querem dar os nomes, temendo represálias por parte da segurança do presídio.

A P-2 tem capacidade para 350 presos, mas está com 1.250. As celas foram destruídas durante a rebelião de 16 de junho. Desde aquela época, dez túneis foram encontrados perto das muralhas.

Já na Penitenciária Regional de Araraquara, os presos receberam, ontem, papel, caneta e selo da direção do presídio para se comunicar com familiares. Não houve visitas no fim de semana. A correspondência será analisada pelos agentes e, se não houver nada ofensivo, colocada no correio ainda hoje. A unidade continua lotada e abriga 1.337 presos, onde há espaço para 124.

Os cadernos e canetas foram recolhidos em algumas das 550 celas e redistribuídos aos presos.Os selos foram dados pelas famílias. Talvez por isso o clima ontem foi de tranqüilidade e sem protestos dos parentes.

Do outro lado da muralha, as mulheres também mandam notícias por carta. Cristina, de 33 anos, colocou em uma sacola 214 envelopes e uma carta ao marido preso há dois anos por tráfico. "Meu marido não tem celular e não sei se ele está vivo", disse Cristina.

Ontem, o diretor Roberto Medina avisou aos parentes que fazem vigília na frente da penitenciária que sabonetes, creme dental, cigarros, remédios e cartas poderão ser entregues hoje, das 8 às 10 horas. As encomendas continuam proibidas. Como a comunicação é restrita, na madrugada de ontem, dois rapazes que saíram da unidade há cerca de 30 dias foram presos por tráfico de drogas, ao arremessar por cima da muralha dois celulares, dois carregadores e cinco trouxinhas de maconha. "Eu estou devendo R$ 4 mil lá dentro e tive de fazer esse serviço", disse um deles. Acabaram levados para uma outra cadeia da região.