Título: Companheiro da guerrilha relata ações de Maranhão
Autor: Miguel Portela
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2006, Nacional, p. A9

Bruno Maranhão, líder do movimento que invadiu e depredou o Congresso, surpreendeu seus companheiros de luta armada quando se descobriu, à época da anistia, sua origem abastada. "A família dele é de usineiros, o Bruno é uma pessoa riquíssima que se envolveu e luta até hoje pelas causas sociais", disse Paulo Pontes da Silva, que o conheceu em 1967 no Recife e com quem participou de um assalto a banco - que fracassou - em maio de 1970, em Salvador. "Ele é diferenciado por dois motivos: primeiro por ser muito rico em relação aos outros; e segundo por continuar com as mesmas idéias, apesar da conjuntura ser distinta."

Hoje professor de economia da Universidade Estadual da Bahia, Pontes lembra que participou junto de Maranhão e de outros amigos da formação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), grupo de extrema-esquerda tido como um dos mais "barra-pesadas" na época da ditadura. Segundo Pontes, o PCBR divergia do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8) e das demais organizações políticas que defendiam a luta armada.

"Algumas organizações diziam que era exagero nós querermos vir fazer ação em Salvador, que devia ser um lugar de recuo", disse. "Lembro que nas discussões dizíamos o seguinte: 'Vamos fazer revolução no Brasil inteiro'." Ainda tentaram um seqüestro, no consulado americano em Salvador, em outubro de 1970, mas cancelaram a ação ao desconfiarem de que eram seguidos. "Suspendemos tudo, mas não deu tempo e eu fui pego", recorda Pontes, que ficou preso por oito anos. Maranhão foi para o exílio, na França.

O professor prefere não julgar a atitude do amigo no Congresso, pois o episódio ainda é muito recente e por ainda não ter ouvido a versão do MLST. No entanto, não se surpreendeu. "Quando eu vi que era o MLST, eu disse assim: 'Olha lá de novo'. É a repetição da velha história."

Pontes disse que Maranhão é dos poucos integrantes dos movimentos de extrema-esquerda que mantiveram os mesmos ideais da época da ditadura. "Eu gosto muito dele, mas acho que de vez em quando ele se perde nessa história como se o mundo não tivesse mudado."

"Minha relação com o passado, com a ditadura, eu não abro concessão até hoje. Contra a ditadura vale tudo", disse. "Mas, apesar da minha formação marxista, prefiro muito mais a democracia burguesa em que vivemos hoje à ditadura do proletariado real de vários lugares."

Apesar de insistir para que se dê espaço para o amigo se defender, adianta. "Cometeu ato de delito tem de ser punido. Mas não tem que partir de mim o julgamento."